Boletim CH#39 ☘️ A cannabis sobe o morro
Projeto oferece consultas, medicamentos e fomenta geração de renda para famílias com filhos atípicos, que podem ser tratados com o canabidiol, no Complexo do Alemão, no Rio
Oi pessoal, alegria alegria, verãozão — pelo menos aqui — brabo. Mas como todo dia pode ter pelo menos uma horinha com cara de férias, é um gozo diário. Aqui em casa a gente brinca que metade da nossa vida é trabalhar loucamente, e a outra, é desfrutar lindamente.
A tour do seu Gilberto pela Europa tá chegando ao fim nos próximos dias, e com isso, as gravações da segunda temporada da série também. Depois de dois meses de trabalho intenso e muita honra, volto a estar disponível para frilas de roteiro e produção audiovisual, se tiver algo por aí, chama noix. Valeu Conspiração Filmes, valeu Gilberto Gil e família. Em junho do ano que vem vocês verão o resultado dessa lindeza toda na Amazon Prime <3
Fora isso, sem muitas novidades por aqui. Só um gostinho amargo de FOMO na boca… queria tanto estar no Boom Festival…. ai ai, mas é isso, vacilei. Fica para 2024. E para 2026, 2028… serei a velhinha bailando nos main floor da vida.
Bom… e quem disse que reparação histórica por meio da cannabis só é possível nos EUA? Conto para vocês todos os detalhes do primeiro projeto desse tipo no Brasil, que acontece graças às mães (sempre elas <3) de crianças atípicas que já atuam voluntariamente pelos direitos humanos no Morro do Alemão. A USA Hemp, por meio da Redwood Foundation, lançou um programa com doações de consultas, medicamentos e recursos financeiros para financiar o projeto dessas mães, incluindo capacitação profissional para elas. Vai lá no Estadão dar uma olhada.
A cannabis medicinal e seus mais de 500 compostos são a antítese da moderna farmacopeia de drogas com apenas uma única molécula, e portanto, precisa ser abordada por um novo viés para que tratamentos de saúde com a substância gerem melhores resultados. Falamos sobre a terapia canabinoide personalizada em um artigo para o Poder360.
Esse mini doc do pessoal do Cannabis Monitor na cobertura do Medical Cannabis Fair tá lindão. Lá pelo minuto 4´30” tem um palinha do que penso sobre o posicionamento do Brasil no mercado mundial de cannabis medicinal.
Pronto, com as atualizações feitas, vamo de news ;)
☘️ Entrevistando Pol Pareja, o repórter que desvendou a fraude de Juicy Fields
>>> Não sei se vocês viram, mas tá rolando um bafafa no mundinho da cannabis, sobretudo na Espanha, mas também em outros países na América Latina, sobre uma empresa fraudelanta que andou atuando nesses países. A primeira reportagem que denunciou o caso é de autoria do jornalista Pol Pareja, e foi publicada em maio, no jornal espanhol El Diário, dois meses antes da farsa sair a público. Quando compareci aos eventos canábicos em Barcelona, em março, notei que a Juicy Fields cheirava estranho. Muita ostentação para pouco conteúdo, mas não fui além em uma investigação. Coisa que meu colega catalão fez. Quando ele deu o caso, a empresa ainda fingia normalidade. Apenas algumas semanas atrás foi que os diretores sumiram com o dinheiro de investimento de mais de 5 mil investidores, que pensavam financiar e lucrar com quotas de cultivos de cannabis enquanto na verdade eram enganados. Quis entender como foi a investigação de um dos golpes mais emblemáticos da indústria até agora, e aqui está o resultado, em espanhol (nada que um google translator não resolva ;) Acabou virando uma entrevista não apenas sobre o caso, mas também sobre jornalismo. Sou suspeita, mas acho que vale.
☘️ Os psicodélicos têm impacto no pensamento criativo? Artigo listou maneiras em que isso ocorre
>>> A Revista Neo.Life publicou um artigo intitulado 7 Ways Psychedelics Impact Creative Thinking, desbravando desde a aparente capacidade dessas substâncias em novas conexões no cérebro até sua tendência de catalisar momentos de ruptura. O texto explica sete maneiras pelas quais os psicodélicos podem afetar nosso pensamento criativo, como por exemplo fantasiar coisas que não existem, conectando pontos antes não observados e revelando os límites da própria criatividade. A reportagem lembra algo importante: os psicodélicos ajudam, mas não fazem o trabalho que só você pode fazer. “O pensamento criativo é um processo”, diz a reportagem: “no fim das contas, um artista sem o conjunto de habilidades e a resistência necessárias para terminar uma obra de arte nunca criará uma obra-prima, mesmo sob a influência de substâncias psicodélicas”.
☘️ Influenciadora e cientista brigam sobre síndrome do uso crônico de cannabis
>>> Babadíssimo no mundinho da cannabis. A pelea entre a minha influencer preferida, Alice Moon, e o cientista Ethan Russo, se tornou pública. Quer dizer, como se arrasta há muitos anos, não era exatamente um segredo, mas desde esta reportagem – que explica tim tim por tim tim como a treta se desenrolou – está dando o que falar. Basicamente, Alice desenvolveu uma espécie de “alergia a cannabis” e desde 2018 lida com uma condição em que se consome a menor quantidade de qualquer mínimo pedaço ou dose de cannabis, vomita por horas. De fato, ela já não consome absolutamente nada de cannabis há tempos. A síndrome de hiperêmese canabinoide, como é chamada a patologia, está relacionada ao uso crônico de cannabis e provavelmente a algum padrão genético que desencadearia a condição mais rapidamente. Bom, a Alice foi uma das primeiras a compilar dados sobre pessoas que sofrem com a mesma doença no mundo. Ela criou as primeiras comunidades para troca de informação a respeito, e sempre foi uma referência no assunto. De tão referência, o Ethan Russo, quando se interessou em realizar um estudo sobre a patologia, foi direto falar com Alice. Pediu a ajuda dela para conseguir pessoas para o estudo e depois disso foi ladeira abaixo. A reportagem completa vale a pena!
☘️ Quem está usando CBD e por quê?
>>> Apesar do enorme interesse público nos produtos de CBD, houve esforços limitados para descobrir exatamente como e por quê as pessoas usam o composto queridinho da cannabis. No início de 2019, o Projeto CBD começou a coletar respostas para desvendar a questão. Mas não apenas. Também buscaram saber que tipos de produtos estão consumindo e se o CBD está ou não funcionando. A análise deste relatório abrange um período de oito meses e mais de 3.500 respostas. A pesquisa perguntou sobre o impacto do CBD em seis medidas de qualidade de vida: dor, humor, sono, disposição física, energia ou motivação e a capacidade de socializar. A maioria dos participantes relatou alguma melhora em todas as medidas, mas as mais significativas foram nas áreas de dor e humor. A pesquisa obteve informações sobre 17 condições diferentes para as quais o CBD é usado. As perguntas incluíam que tipo ou estágio da doença a pessoa tinha (por exemplo, diabetes tipo 1 ou tipo 2) e como eles achavam que o CBD afetava seus sintomas. O estudo observacional validou alguns fatos bem estabelecidos sobre o CBD, como segurança e eficácia para melhorar a dor e a ansiedade. O estudo também mostrou que o CBD não é uma panacéia para tudo o que nos aflige. Alguns sintomas foram decididamente menos responsivos ao canabinoide. Por exemplo, o canabidiol não foi particularmente útil para ajudar pessoas com doenças gastrointestinais a manter um peso saudável. Nem teve muito impacto no inchaço relacionado à TPM, diarréia e constipação relacionadas ao câncer ou baixo desejo sexual durante a menopausa. No entanto, o CBD foi eficaz em simplesmente fazer as pessoas se sentirem melhor – provavelmente devido ao seu impacto positivo na dor, humor e sono.
☘️ Para os australianos, a cannabis é mais aceitável que o tabaco
>>> Um estudo recente do Instituto Australiano de Saúde e Bem-Estar descobriu que na Austrália, o uso de cannabis é mais aceitável do que o uso de tabaco, segundo publicou o The Guardian. A pesquisa descobriu que 20% dos entrevistados apoiam o uso regular de cannabis em comparação com 15% de apoio ao uso regular de tabaco. Também revelou que dois a cada cinco australianos apoiam a ampla legalização da cannabis, um aumento de 16% nos últimos 10 anos, com apoio de até 60% em Sydney, 57% em Melbourne e 47% em Brisbane. Na capital do país, onde a cannabis foi descriminalizada para adultos em 2020, 66% dos moradores apoiou as reformas. Cerca de 85% dos australianos apoiam a aplicação mais rigorosa das leis que proíbem o fornecimento de produtos de tabaco a menores e sete em cada 10 entrevistados disseram que o uso de cigarros eletrônicos deve ser restrito em locais públicos. O The Guardian observa que o micropartido político Legalize Cannabis obteve entre 2% e 7% dos votos do Senado nas eleições federais de maio na maioria dos estados, apesar de não ter feito publicidade durante a campanha.
☘️ Bombeiros de Nova York não serão mais testados para cannabis
>>> O Corpo de Bombeiros da cidade de Nova York não testará mais aleatoriamente seus empregados quanto ao uso de cannabis, reconheceu a Uniformed Firefighters Association (UFA), após o vazamento de um documento confidencial descrevendo as reformas. O sindicato da categoria disse que a nova política se deve à ampla legalização de Nova York, que entrou em vigor em 1º de abril e desde então, promove mudanças para adequação à nova lei. As ações do Conselho Executivo da UFA sobre este assunto não são, no entanto, um endosso ao uso recreativo de maconha, mas são sim baseadas na crença de que os membros da UFA têm os mesmos direitos que outros residentes do Estado. Em uma carta de acompanhamento aos membros do FDNY, o chefe de operações John Esposito lembrou aos bombeiros que “o uso de qualquer substância durante o trabalho ainda permanece estritamente proibido”, mas observou que o Departamento Jurídico da cidade de Nova York emitiu uma orientação que “proíbe ações trabalhistas adversas com base em consumo de cannabis fora do horário comercial e que a orientação será divulgada oficialmente nas próximas semanas.
☘️ Realidade virtual para terapia psicodélica é nova oportunidade para patentes
>>> Alguns cientistas argumentam que as experiências psicodélicas e a realidade virtual compartilham a capacidade comum de alterar a percepção e o processamento visual. Ambos podem induzir atividade cortical comparável e provocar respostas neurológicas semelhantes. Agora, uma nova geração de pesquisadores está combinando realidade virtual e psicodélicos para criar novos paradigmas terapêuticos interessados em melhorar o atendimento ao paciente, criando também oportunidades para registrar patentes. Várias empresas divulgaram registros de patentes descrevendo uma combinação de realidade virtual e psicodélicos. Em junho de 2021, a Goodness Growth Holdings, Inc., anunciou que sua subsidiária, a Resurgent Biosciences, havia solicitado uma patente nos EUA para criar um conjunto de aplicativos de realidade virtual que poderiam ser usados durante sessões de terapias psicodélicas para aprimorar e orientar os pacientes através da experiência e potencialmente criar resultados terapêuticos otimizados e mais duradouros. Em maio de 2022, a Enosis Therapeutics, uma empresa australiana de tecnologia e pesquisa médica, anunciou que estava avaliando a integração da realidade virtual em protocolos psicodélicos existentes para desenvolver novas tecnologias. À medida que a tecnologia amadurece, a indústria deve esperar um aumento nos registros de patentes e intersecções com outras ferramentas deve ser uma bela saída pra isso.
☘️ Indonésia, osso duro de roer
>>> O tribunal constitucional da Indonésia decidiu que as leis de drogas existentes no país são constitucionais e rejeitou os pedidos de uso de cannabis para fins médicos, de acordo com uma reportagem da Bloomberg. O tribunal, no entanto, ordenou que o governo revise a maneira como categoriza os narcóticos, o que pode abrir a porta para o uso de cannabis medicinal. O juiz Anwar Usman decidiu que uma mudança no sistema de classificação existente seria necessária para permitir o uso de cannabis medicinal na Indonésia. Sob a lei atual, a cannabis figura entre as substâncias mais viciantes, diz o relatório, e qualquer uso fora da pesquisa é ilegal. O país impõe a pena de morte para o tráfico de drogas. É muito louco pensar logo ali do lado, na Tailândia, o negócio tá indo tão bem, que virou a nova onda do empreendorismo millenial do país. A Tailândia era também um país conservador há até bem pouco tempo.
☘️ Mais de 30% dos pacientes com dor crônica no Canadá se tratam com cannabis
>>> Quase um terço dos pacientes que vivem com dor crônica declararam utilizar cannabis para controle da dor, dizem dados publicados no Canadian Journal of Pain. Investigadores canadenses avaliaram as tendências de uso de cannabis em uma amostra de 1.935 pacientes com dor crônica residentes em Quebec. Pouco mais de 30% dos pacientes da amostra disseram que usavam cannabis para controle da dor. Os autores identificaram maior prevalência de cannabis entre os pacientes mais jovens, mas não relataram diferenças significativas entre homens e mulheres em relação à probabilidade de consumir a substância. “A cannabis é, portanto, um tratamento comum relatado em pessoas que vivem com dor crônica”, concluíram. Entre os pacientes nos estados dos EUA onde o acesso à cannabis medicinal é permitido, mais de 60% o fazem para usá-la no tratamento da dor.
☘️ Forma vaporizada de uso do CBD reduz vontade de tabaco
>>> A vaporização de uma formulação líquida de CBD diminui o uso de maconha com tabaco, de acordo com dados publicados na revista Frontiers in Psychiatry. Uma equipe de pesquisadores franceses avaliou o impacto do CBD vaporizado nos padrões diários de consumo de cannabis em uma amostra de 20 consumidores diários. Estudos anteriores demonstraram que a administração de CBD mitiga o desejo do fumante por cigarros de tabaco. Dos nove pacientes que completaram o teste de 12 semanas, seis deles reduziram o consumo diário de maconha/tabaco em 50%. Os autores concluíram que a pesquisa fornece evidências a favor do uso de CBD em CUD [pacientes com transtorno por uso de cannabis]. Um ensaio clínico duplo-cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo ainda é necessário para avaliar a eficácia do CBD inalado em CUD. O consumo de canabidiol já foi associado a reduções na ingestão de álcool, bem como a reduções nos desejos e ansiedade induzidos por estímulos em indivíduos com histórico de uso de opioides.
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Vamos nos despedindo, minha gente. Gracias por chegar até aqui e torço para que você tenha se surpreendido com alguma coisa que leu. Antes do tchauzinho, aqueles três toques. Hoje, psicodelicamente.
Os psicodélicos fizeram parte da sua experiência de pandemia? Uma equipe de pesquisa da Saint Paul University, no Canadá, está procurando pessoas que tiveram uma experiência psicodélica significativa desde março de 2020 para participar de um estudo online de duas partes sobre os efeitos místicos e existenciais dos psicodélicos. Marcelo Leite discute a omissão da ayahuasca e da ibogaína no How To Change Your Mind, doc do Michael Pollan. E o absurdo dos absurdos. Uma enfermeira de Indiana, nos EUA, mãe de quatro filhos e com uma depressão resistente a tratamentos, começou a cultivar cogumelos mágicos para fazer sua própria microdose. Mas foi denunciada e a polícia chegou invadindo sua casa, como se fosse uma criminosa. Ela pode pegar a até 10 anos de prisão. A história completa aqui.
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Beijos e abraços,
Anita
Boletim CH#39 ☘️ A cannabis sobe o morro
Está matéria está muito boa, percebo o quanto vêm se aprimorando na qualidade das informações.
Parabéns!!!