Boletim CH#10 ☘️ Para além do THC e do CBD: cresce o interesse por canabinóides menores
Especialmente pelo CBN (que vai bem para o sono), CBG (que aumenta a imunidade), CBC (que alivia dores) e pelo Delta-8 THC, que em linhas gerais se parece ao THC, mas já causa polêmica na indústria
Oiê, tudo bem por aí?
Chegou o boletim de notícias canábicas que você lê todinho sem nem perceber, e este é especial, nossa 10ª edição!!
Por aqui, tava correndo para lançar o primeiro episódio do Cannabis Hoje Podcast - simmmm, a gente virou podcast também:) - mas acontece que sábado começou aquela temporadinha de mercúrio retrógrado e vai até 22 de junho. Cês vão me achar mucho loca se eu esperar até lá para lançar? rs vou pensar aqui, tá? Tô realmente em dúvida, porque, né, contra o céu não se joga…
Vontade de organizar uma comunidade de casinhas feitas de cânhamo para morar pertinho de todo mundo que também abraça a ideia :) começando pelos 70% de brasileiros que apoiam o uso medicinal da cannabis.
Boa notícia, meus amigos, a BRCANN é mais uma entidade que nasceu há pouco com um quadro formado por 14 empresas de cannabis do Brasil que lutam pelos interesses do setor no país. Viva!
Outra, esse exemplo prático da busca pela igualdade no mercado de trabalho canábico, mães solteiras empregadas no plantio de cannabis por uma empresa colombiana.
A Dinamarca concedeu à população permissão para usar cannabis medicinal como parte de um experimento nos últimos três anos e pouco. A permissão estava por expirar, em dezembro de 2021, mas o governo aprovou mais quatro anos de teste, colocando em marcha dentro do próprio país os atores de um setor que pretende dominar na Europa.
E a Grécia liberou a cannabis mas só com até 0,02% de THC, um erro tolo que, cá entre nós, esperamos, o Brasil não cometa, já que é uma bobagem sem tamanho isolar um composto que funciona muito melhor em parceria com os outros, através do chamado efeito comitiva.
Na Irlanda, mais de 90% da população está a favor da legalização da cannabis para uso medicinal e quase 40% a favor do uso recreativo
Barcelona parou de emitir licenças para novos clubes canábicos, a cidade ganhou 21 novas associações somente no ano passado, em plena pandemia, somando um total de 280 clubes abertos oficialmente. Essas associações são alegais, funcionando numa brecha legal que permite que uma pessoa cultive para o seu consumo, e que duas ou mais pessoas também tenham o direito de se juntar em formato de associação sem ânimo de lucro, apenas com o aporte de cada sócio para manter as despesas do cultivo coletivo, o que é claramente uma falácia, já que todos sabemos que sim, se pode comprar erva nos clubes por um preço médio de 10 euros o gramo.
Get up stand up for your rights, já dizia o mestre dos mestres. Lá no Quênia, a sociedade rastafari entrou com recurso para poder usar cannabis em paz, ou melhor, para buscar a paz -ou, como eles dizem, se conectar com a criação- em seus rituais.
Falando em rituais, esse episódio da Rádio Escafandro, do brilhante Tomás Chiaverini, está imperdível com a participação do jornalista Marcelo Leite e do neurocientista Dráulio Barros de Araújo contando suas experiências pessoais e profissionais com o uso de psicotrópicos como Ayahuasca e LSD e o potencial de cura dessas substâncias para depressão, ansiedade, traumas, vícios e outras desordens psicológicas.
Agora sim, vamos às news!
☘️ Margarete Santos de Brito é como se chama a mulher que conquistou a primeira permissão para o auto cultivo de cannabis no Brasil com fins medicinais para o tratamento da filha, Sofia. Isso lá atrás, em 2013. Como diria minha avó, muita água passou debaixo dessa ponte até chegar em 2021, quando os esforços de Margarete estão voltados para uma nova conquista: a autorização para o plantio de cannabis para uso medicinal de 1.400 pessoas associadas à Apepi, associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal que fundou no mesmo 2013. “Durante a pandemia, aumentou muito a procura por extrato de canabidiol, e entendemos que precisávamos crescer”, disse, em entrevista ao jornal O Globo. A autorização já havia sido concedida, em 2020, permitindo “pesquisar, plantar, colher, cultivar, manipular, extrair óleo, acondicionar, embalar e distribuir aos associados o extrato de canabidiol”, em decisão deferida pela 4ª Vara Federal do Rio de Janeiro, mas foi revogada quatro meses depois por falta de certificação da Anvisa. Enquanto a decisão final, prevista para daqui um mês, não sai, a Associação atua dentro da legalidade, ao ter se associado com a Fiocruz para o desenvolvimento do cultivo dentro de normas técnicas da agência reguladora. “A ideia é que a fazenda vire um centro de pesquisa para desenvolver um remédio mais acessível, que sirva de referência para o Ministério da Saúde, e que a gente faça um projeto de farmácia verde. Os três remédios à base de maconha vendidos atualmente no Brasil são fabricados com matéria-prima importada e custam, em média, R$ 2.500”, diz Margarete. Que mulher, né, gente?
☘️ Demorou mas rolou, a gigante do tabaco Phillip Morris, multinacional por trás dos cigarros da marca Marlboro, já considera abertamente a entrada na indústria da cannabis, mas se engana você que pensou em baseado de caixinha, eles estão de olho é nos produtos de cannabis livres de fumo, segundo reportagem da Bloomberg. Obviamente que a falta de regulação ampla do mercado deixa a multinacional com um pé atrás, mantendo a estratégia ainda em um nível de planejamento. O distanciamento da fumaça e da nicotina, no entanto, já está acontecendo como parte da estratégia para readequação de práticas e público-alvo antes de abraçar a cannabis. Taí, que cor cairia bem para um pacote de baseado Marlboro?
☘️ Nova dose padrão de 5 mg para o THC foi liberada pelo National Institute on Drug Abuse dos EUA entrou em vigor para ser utilizada em todos os estudos com cannabis a partir de agora. A comunidade científica se beneficia desse tipo de estandardização pois ter um parâmetro equiparável como este é fundamental para avançar em estudos e pesquisas, facilitando a análise dos estudos de cannabis relacionados ao THC, que se tornou uma das principais prioridades nos EUA. Os pesquisadores podem usar mais ou menos do que 5 mg de THC conforme apropriado para seu estudo. No entanto, para estudos aplicáveis, os pesquisadores precisarão relatar a quantidade de THC usando a nova unidade padrão de 5 mg. E ressaltaram ainda que valorar o que quer seja apenas pela quantidade de THC não quer dizer muita coisa, ao afirmarem, em nota, que a mesma quantidade de THC pode ter efeitos diferentes dependendo da via de administração, outros componentes do produto, composição genética, exposição anterior à cannabis, fatores metabólicos de cada indivíduo, e outros mais.
☘️ Se você está pensando em investir no mercado de cannabis, tem umas coisinhas importantes para saber sobre as perspectivas do setor para 2021 nos EUA, e que acabam impactando globalmente o setor. A revista Entrepreneur começa apontando os dois principais riscos de inversão nessa indústria: a volatilidade do valor das empresas e a incerteza de quanto tempo levará para que esteja totalmente regularizada. E também te lembra que há limitações para investir em cannabis, mas que esse panorama pode mudar completamente até o fim do ano, dependendo do desenrolar de cinco fatores: 1) a reforma bancária tão sonhada pela indústria canábica; 2) uma provável retirada da cannabis da lista de substâncias controladas schedule 1; 3) e a consequente diminuição de impostos que hoje custam até quatro vezes mais em comparação com o que pagam outras indústrias; 4) a legalização a nível federal nos EUA; 5) e finalmente a abertura e o incentivo para a entrada de empresas canábicas na bolsa de valores.
☘️ Enquanto todo mundo só fala de THC e de CBD, há um crescente interesse pelos canabinóides menos conhecidos, como o CBN (vai bem para o sono), o CBG (aumenta a imunidade) e o CBC (alivia dores). As empresas que já incluem esses canabinóides “menores” nos produtos que comercializam reconhecem que ainda não é o momento para bombar outras siglas enquanto não houver dados suficientes sobre a experiência dos consumidores com os compostos, ao mesmo tempo em que argumentam que pelo fato de muitas delas serem derivadas do cânhamo são de muito mais fácil aceitação com respaldo legal no mercado. Devido ao seu potencial para melhorar dor, ansiedade e sono, os canabinóides menores já estão se popularizando no mercado de comestíveis e também no de cosmética, que aproveita as propriedades anti inflamatórias e antioxidantes do canabinóides menores em seus produtos. Há quem aposte que eles serão incorporados aos nossos hábitos tal qual um multivitaminas, passando a fazer parte da nossa rotina normal. Já pensou?
☘️ Falando em novos canabinóides, um deles se destaca de tal maneira que é preciso mais espaço para falar sobre o Delta-8 THC. Já se sabe que o Delta-8 THC é similar ao THC em vários aspectos medicinais, tendo sido inclusive indicado para tratamento de náuseas e glaucoma. Por ter menos afinidade com os receptores endocanabinóides, o Delta-8 apresenta efeitos mais moderados em termos de chapação. E aí está o hype da coisa. Tem muita gente adotando o Delta-8 não apenas para fins medicinais, mas principalmente para ficar chapado apenas "na medida" e continuar tendo condições de trabalhar ou estudar, por exemplo. Só os legisladores que proíbem mais de 0,03% de THC não estão lá muito contentes ao ver mais e mais usuários driblando a lei para usar a cannabis recreativamente através de uma brecha legal que ainda não categoriza nem restringe o Delta-8, que foi provavelmente ignorado pela ínfima proporção em que aparece na planta: menos de 1%. Para efeito comparativo, é possível encontrar concentrações de até 30% de CBD ou THC na cannabis. De ignorado, o Delta-8 passou a ser observado bem de perto quando a indústria canábica passou a oferecer produtos com alta dosagem desse "novo" canabinóide como resultado de um processo sintético de extração. Enquanto não houver um consenso da comunidade científica a respeito, melhor evitar, né?,
☘️ Quem tem mais a ganhar com o aumento do preço da madeira? Ele mesmo, o cânhamo. O preço da madeira quase triplicou no último ano -e se você é mais um apaixonado pelo Leroy Merlin já deve ter notado. Esse movimento faz os construtores do mundo todo voltarem a pensar no cânhamo como um material de construção alternativo substituindo as tábuas de madeira tradicionais por tábuas feitas a partir das fibras internas do cânhamo, e os blocos de concreto pelos hempcrete, que de quebra são muito mais ecológicos. Sem contar que o cânhamo cresce muito mais rápido que as árvores e em muitos casos é mais resistente ao fogo e às pragas.
☘️ Os ateus têm muito mais probabilidade de apoiar a legalização da maconha do que os cristãos, revelou uma nova pesquisa com mais de 5 mil participantes feita pelo Pew Research Center, um instituto norte-americano interessado em descobrir tendências globais de comportamento. Enquanto a maioria das pesquisas sobre cannabis são baseadas em dados demográficos como idade, raça e visão política, é interessante que os caras tenham realizado esse estudo a partir do viés religioso, revelando que entre os adultos mais religiosos, apenas 39% dizem que a maconha deve ser legal para uso medicinal e recreativo, e entre os menos religiosos, o apoio à cannabis sobe para 76%. Outro dado importante para ficar ligado: o grupo menos propenso a apoiar a legalização do uso adulto da cannabis é dos evangélicos.
☘️ A legalização da cannabis era o sonho dos empresários das quase vizinhas cidades de Nova York e Nova Jersey, que estimam um mercado potencial da região ultrapasse os 30 bilhões em cinco anos e correm para cultivar a erva em grande escala utilizando espaços como um antigo presídio desativado e um enorme complexo industrial que pertencia à farmacêutica Merck. E não é que eles precisem esperar os tais cinco anos para começar a fazer rios de dinheiro, ao que parece, já há escassez da erva nas duas cidades. Em Nova Jersey, onde a cannabis medicinal é legalizada há dez anos, nunca houve estoque suficiente para abastecer a demanda, e o cenário piorou desde o começo da pandemia. Por não ser legalizada a nível federal nos EUA, não é possível comprar carregamentos da planta de outros Estados, a solução é mesmo investir no cultivo local.
☘️ Tem toda a pinta de que o cânhamo vai se espalhar pelo ramo têxtil comendo pelas beiradas. Ao invés de brigar com o algodão pretendendo uma substituição imediata e obrigando toda a indústria a se adaptar a ele, o que vem acontecendo é a mescla da fibra de cânhamo com o algodão, que geram um tecido confortável e resistente. Outro fator que freia a tomada da indústria de assalto pelo cânhamo é seu valor, que comparado ao algodão custava até dez vezes mais, antes de um recente movimento de demanda em larga escala, barateando a matéria-prima. Estimativas preveem que levará entre cinco a dez anos para que o cânhamo alcance o segundo lugar no mercado de fibra de algodão, atrás do poliéster. Olha aí direitinho na etiqueta do seu jeans se já não tem alguma porcentagem de hemp.
É isso, gente. Vamos nos despedindo mas, antes, três coisinhas:
Você sabia que para diminuir a paranóia e a ansiedade que algumas vezes experimentamos quando fumamos cannabis com alto teor de THC, basta comer pimenta ou beber um suco de limão? Se até os tiktokers sabem, achei que todos merecíamos saber ;)
O relaxamento das regras de publicidade e redução de restrições de anúncios sobre conteúdos canábicos no Youtube me fez pensar nessa entrevista com o papa do marketing canábico, David Paleschuck.
Lá no começo a gente falou do Bráulio de Barros Araújo, que é um dos convidados do fórum delta9 sobre cannabis medicinal com entrada gratuita ao evento online a partir do dia 7 de junho. Nos vemos lá?
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Beijocas,
Anita_Cannabis Hoje