Boletim CH#24 ☘️ A gente quer comida, diversão e cannabis
Estrondoso aumento na demanda por medicamentos à base da erva pede urgência à Câmara e ao Senado na sua regulamentação
Olar :) Tudo bem por aí?
Eu sou Anita e esse é o Cannabis Hoje, a única newsletter sobre cannabis e psicodélicos que você precisa.
Vou logo me apresentando, pois chegou muita gente nova por aqui desde que publiquei meu artigo de estreia no El País Brasil. Aliás, maior honra! É realmente uma alegria escrever sobre assuntos que eu sou apaixonada e contar com espaços generosos como este. Também no Poder360 e em outros meios que estão atentos às novidades da psicodelia, suas várias possibilidades clínicas, místicas, recreativas e a potencial revolução de seus usos na sociedade.
Não lembro se eu já contei aqui. Mas fiz parte de um grupo de ayahuasca, dissidente da UDV (União do Vegetal), entre 2010 e 2015. Até começar a escrever reportagens sobre psicodélicos, este ano, eu não tinha ideia de que havia sido usuária de psicodélicos durante 5 anos hahaha! Lá no grupo, a gente se referia ao “vegetal” como substância enteógena, nunca sequer escutei falar que era também psicodélica.
Fomos eu pra um lado e a ayahuasca pro outro. E só agora, que voltei a me conectar com o tema, me dei conta de que os psicotrópicos captam minha atenção de tal maneira que não há outro jeito a não ser dedicar minha vida profissional a desvendar e comunicar descobertas e experiências que envolvem cannabis e psicodélicos. Feliz com isso, sabe aquela história de propósito? Tão clichê quanto verdadeira.
Aos que estão chegando, bem-vindos! Espero que gostem da seleção de notícias que enviamos quinzenalmente para o seu e-mail. Aos que já acompanham o nosso boletim há tempos: GRACIAS! É pensando em vocês que, faça chuva faça sol, eu sento a bunda para escrever e, se preciso for, vou madrugada adentro para entregar o seu jornalzin logo de manhã, junto do pão quentinho.
Ah, e antes que eu me esqueça, quem não leu a reportagem que publicamos há uns dias no Infomoney, stop aqui e vai lá, que tá interessante. Falo sobre a atração fatal dos brasileiros pela ExpoCannabis Uruguay, representando quase 50% do público total; e as possibilidades de investimento para o investidor pessoa física. E ainda rolou uma exclusiva: apuramos que os farialimers da Investo devem lançar ainda no primeiro semestre de 2022 o primeiro ETF no segmento de cannabis no mercado brasileiro.
Maravilha?
Então bora de news!
☘️ Governo da Jamaica lança campanha de educação canábica
>>> Antes tarde do que nunca. O governo jamaicano lançou o “Good Ganja Sense”, uma campanha que pretende informar e educar os jamaicanos sobre o consumo de cannabise desmascarar os mitos comuns que rodeam a erva. O site com materiais educacionais que cobrem os riscos e benefícios da cannabis foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar da Jamaica em parceria com a Campanha Nacional sobre o Abuso de Drogas (NCDA. “Estamos em um mundo digital onde as pessoas encontram informações por si mesmas, e as informações podem ser falsas ou bem verdadeiras, dependendo da fonte”, disse a diretora do programa, Juliet Cuthbert-Flynn, em um comunicado. O uso geral de cannabis foi descriminalizado na Jamaica e a cannabis medicinal foi legalizada. A Jamaica também foi o primeiro país do mundo a legalizar a cannabis para fins religiosos.
☘️ Pais e mães a favor da cetamina para o tratamento de adolescentes com tendências suicidas
>>> Cada vez mais pais e mães têm aceitado a ideia de tratar seus filhos adolescentes com cetamina como um tratamento para afastá-los de ideações suicidades e transtorno bipolar. Mais especificamente, 7 em cada 10 são à favor da substância, mesmo sabendo que seu uso original é como um potente anestésico e seu uso off-label, como droga recreativa para quem busca sentir-se mais lento e calmo, ainda que se esteja no meio da avenida Paulista. O estudo foi publicado no Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology, e examinou as atitudes dos pais em relação à cetamina como um tratamento para transtornos de humor e suicídio em adolescentes. Estima-se que 14,3% dos adolescentes dos Estados Unidos têm transtorno de humor, de acordo com o National Institute of Mental Health. Embora não seja atualmente aprovada para uso psiquiátrico em adolescentes, a cetamina demonstrou efeitos antidepressivos rápidos quando usada para transtornos de humor resistentes ao tratamento. “A cetamina ganhou popularidade como uma intervenção mecanicamente nova, de ação rápida e, em última análise, esperançosa para a depressão resistente ao tratamento e suicídio em adultos”, explicaram os autores do estudo. “Como os pais mantêm a capacidade de tomada de decisão sobre os cuidados médicos de seus filhos, o consentimento dos pais é um fator chave na adoção de novos tratamentos para adolescentes.” A pesquisa também mostrou que os pais preferiam aplicações de curto prazo e vias menos invasivas de administração de cetamina, sendo o spray nasal o método de administração preferido, seguido por administração oral ou sublingual. As principais preocupações dos pais eram os possíveis efeitos colaterais da cetamina, a falta de aprovação da FDA (United States Food and Drug Administration) para o uso psiquiátrico de cetamina em crianças fora dos protocolos de pesquisa, potencial de abuso, idade da criança e capacidade da criança de tomar suas próprias decisões de tratamento.
☘️ Empresa listada na bolsa produz biomassa de cannabis sem cultivar a planta
>>> Parece coisa de filme de ficção científica, mas é real. Esta semana uma empresa de biotecnologia israelense-canadense de capital aberto, a BioHarvest Sciences, anunciou o que prometer ser uma importante inovação para o setor: a produção de pelo menos 10 kg de cannabis de espectro total sem cultivar a própria planta. A biomassa em questão foi criada a partir da plataforma de tecnologia BioFarming da empresa, que permite o crescimento de células vegetais naturais em biorreatores. Além disso, a empresa garante que o produto não é geneticamente modificado e que é “consistente e limpo”. Em alguns meses saberemos melhor se tal tecnologia poderá fornecer uma solução interessante para dois dos principais problemas na indústria da cannabis: a variabilidade e contaminação do produto, já que o ambiente asséptico e controlado significa que o produto não é afetado por fungos, levaduras, bolores ou qualquer outro contaminante ou pesticida. Os puristas argumentarão que a cannabis cultivada em um biorreator não é cannabis real. E pode ser. No entanto, a biomassa da empresa israelense é um produto de espectro completo, o que significa que contém a maioria (senão todos) dos compostos químicos encontrados na cannabis tradicional. A biomassa é composta por células de cannabis, especialmente células de tricomas que contêm canabinóides como CBD e THC, bem como outros compostos naturalmente presentes na planta.
☘️ Estudo sugere que a psilocibina (dos cogumelos mágicos) reduz a dependência ao álcool
>>> Um estudo publicado no mês passado na revista Science Advances sugere que a psilocibina –que está presente nos cogumelos mágicos– pode mudar a parte do cérebro que é responsável pelo alcoolismo e pela dependência ao álcool, e pode ser capaz de reverter os danos cerebrais causados pela substância. A pesquisa em ratos se concentrou em um receptor de glutamato “mGluR2” no cérebro que foi danificado pelo uso de álcool. A equipe de mais de 20 pesquisadores “estabeleceu um modelo de dependência de álcool” em que os ratos receberam exposição intermitente crônica ao vapor de álcool, que os pesquisadores disseram, “leva a níveis de intoxicação semelhantes aos observados na dependência dessa substância.” Os ratos com danos cerebrais foram então divididos em grupos. Um grupo recebeu tratamentos de baixa dosagem com psilocibina, outro recebeu altas doses, enquanto o terceiro não recebeu nada da substância. Em ambos os grupos de psilocibina, os níveis de mGluR2 foram regenerados após o tratamento e o comportamento de dependência foi reduzido em 45% menos do que o grupo que não recebeu psilocibina. Depois desse surpreendente resultado, a equipe de pesquisadores pretende extender o estudo aos humanos.
☘️ Esperminha ralo? Estudo relaciona infertilidade masculina ao uso de cannabis
>>> Se você tá pensando em ter filhos e é usuário de cannabis, vem cá, que eu vou te contar uma coisa. Os resultados de um estudo recente relacionou a infertilidade masculina ao uso de cannabis. Publicado pela Washington State University, o estudo foi o primeiro a utilizar cannabis em uma forma vaporizada em vez de injetar THC em ratos. A cannabis vaporizada também é uma das formas mais comuns da planta que os humanos consomem. Trinta camundongos machos adultos foram divididos em dois grupos de 15, um que era exposto ar puro e outro, exposto à cannabis vaporizada três vezes ao dia durante dez dias. Os ratos foram então cruzados com fêmeas que não haviam sido expostas a nenhuma droga. O grupo de camundongos expostos ao vapor de cannabis apresentou contagem de espermatozoides diminuída durante um mês. Também foram identificadas outras "evidências de danos ao DNA e interrupções relacionadas ao desenvolvimento de células de esperma". Há quem veja vantagem, rs.
☘️ Sono e sonho são sempre assuntos interessantes para o maconheiro – ou pelo menos deveriam ser
>>> O uso recente de cannabis está relacionado a extremos de padrões do sono: menos de 6 horas ou mais de 9. E este padrão ficou ainda mais pronunciado em usuários frequentes. Um estudo de uma grande amostra representativa de adultos americanos, publicado na revista Regional Anesthesia & Pain Medicine há poucos dias, foi realizada a partir de dados recolhidos de 2005 a 2018. Os respondentes foram classificados em três categorias: usuários frequentes (se consumiram 20 ou mais vezes nos últimos 30 dias), moderados, e não consumidores. E a duração do sono foi definida como curta (menos de 6 horas), ótima (6-9 horas) e longa (mais de 9 horas). De uma amostra de mais de 20.000 pessoas, representando aproximadamente 146 milhões de adultos nos Estados Unidos, 14,5% relataram ter usado cannabis recentemente. O uso moderado de cannabis não foi associado a sonolência diurna frequente, mas foi associado a dormir muito ou pouco. De acordo com os resultados, os usuários recentes têm 34% mais probabilidade de ter um sono curto e 56% mais probabilidade de ter um sono longo do que os não usuários. Além disso, eles têm 31% mais probabilidade de relatar dificuldades para adormecer, permanecer dormindo ou dormir muito nas duas semanas anteriores ao estudo. Por outro lado, usuários moderados têm 47% mais chances de dormir 9 ou mais horas por noite em comparação com os não usuários.
☘️ Microdose é pop (ou top?)
>>> A microdosagem cresceu durante a pandemia, meu amigo. Esses dias eu abri no Instagram uma pergunta sobre quem fazia ou já tinha feito microdosing, e fiquei impressionada com a quantidade de gente que respondeu. Diferentes técnicas, maneiras, substâncias, mas quase todos disseram que valeu demais a experiência. Mas enfim, isso ficou comprovado com os resultados da Global Drug Survey (GDS), uma plataforma online criptografada para coletar dados anônimos sobre drogas em todo o mundo. O relatório de 2021, baseado em dados de 32.022 pessoas de 22 países, mostrou que um em cada quatro usuários de drogas relatou microdosagem - consumindo uma pequena fração do que é considerado uma dose recreativa de um psicodélico - durante os últimos 12 meses com psilocibina ou LSD. Os pesquisadores têm explorado a prática, a função e os benefícios percebidos da microdosagem nos últimos quatro anos, e seus resultados sugerem que está se tornando mais popular. “Nossos resultados também revelam que as pessoas estão microdosando uma gama muito mais ampla de psicodélicos, além de LSD e psilocibina, com quase um terço daqueles que usaram outros psicodélicos relatando ter microdosado com MDMA (15,7%), cetamina (12,2%), DMT (7,4%) e 1P-LSD (7,8%). Já falamos, há umas duas edições, sobre a pesquisa 2022, que está aberta para quem quiser responder. Eu indico vivamente, já que é através desse tipo de pesquisa que podemos aprender mais sobre nossos hábitos enquanto sociedade, e se for o caso de mudar, também se pode observar o que queremos mudar, né?
☘️ Cannabis diminui risco de um tipo de infecção bacteriana no estômago
>>> O uso de cannabis está associado a uma diminuição do risco de infecção por Helicobacter Pylori (HPI) - uma infecção bacteriana do estômago que pode estar associada a dor abdominal, perda de peso e úlceras. O HPI é relativamente comum em adultos em todo o mundo, embora muitas pessoas não apresentem sintomas graves. Uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e Canadá avaliou a relação entre o uso de cannabis e um diagnóstico de HPI em uma coorte nacionalmente representativa de 4.556 indivíduos, dos quais os que não usavam cannabis tinham quase duas vezes mais probabilidade de ter HPI em comparação com indivíduos com histórico de uso de cannabis, mesmo levando em conta fatores demográficos e comorbidades.
☘️ Califórnia fervendo - ou o pot-pourri
>>> Estão acontecendo muitas coisas na Califórnia, daí vou ter que fazer um pot-pourri pra dar conta. Vamos lá, o que mais me surpreende é a onda de roubos a dispensários de cannabis no estado. E pasme comigo: a polícia muitas vezes não faz nada para impedir. Tem câmera e tudo flagrando a inação da polícia diante de um roubo desses. Os criminosos visam uma variedade de operações de cannabis incluindo varejistas tradicionais, joias e lojas de departamentos, além de farmácias. Outra coisa que me surpreendeu foi a decisão do governo de São Francisco de suspender a cobrança de impostos de negócios canábicos a partir de janeiro de 2022 e durante o ano inteiro. Rafael Mandelman, o autor do decreto, disse em um comunicado que suspender o imposto comercial sobre a cannabis ajudará a apoiar os varejistas legais de cannabis enquanto lutam para competir com os vendedores ilegais de cannabis. E por último, anda-se falando sobre padronizar os testes de cannabis com o objetivo de eliminar inconsistências entre os 41 laboratórios de maconha operacionais do estado. A falta de padrões está entre os fatores que atormentam a indústria da cannabis, ameaçando minar a confiança do consumidor em seus produtos. Sobretudo, porque funcionários da indústria em todo o país alegam que algumas empresas compram laboratórios que lhes darão os resultados que desejam ver em termos de potência e contaminantes de THC. Esse é um esforço necessário, que vai certamente aumentar a qualidade e a confiabilidade no setor.
☘️ Os terpenos, assim como os canabinóides, também são terapêuticos
>>> A irresistível fragrância da cannabis - aquela “profusão de perfumes” depende de quais terpenos predominam na planta. Esses comunicadores-chave do mundo botânico (cerca de 20.000 terpenos distintos foram identificados até agora na natureza) podem induzir uma ampla gama de efeitos biológicos. Há evidências de que os terpenos podem melhorar a cognição, bloquear a dor, matar bactérias nocivas, causar alucinações, inibir a inflamação, combater o câncer, reduzir o estresse e deixar você chapado. Neles também estão estão as bases da aromaterapia. À medida que os cientistas continuam a estudar os terpenos e seu papel não apenas na cannabis, mas em todos os medicamentos fitoterápicos, novas e, às vezes, surpreendentes descobertas sobre esses fascinantes compostos vegetais vão surgindo. No mês passado, mais dois artigos foram adicionados à base de evidências para os potenciais poderes de cura do beta-cariofileno, um dos terpenos mais comuns e abundantes da cannabis. Primeiro, uma equipe de pesquisadores italianos relatou na revista Molecules que os extratos de flores de cânhamo contendo três formas diferentes do terpeno, bem como os canabinóides não tóxicos CBD e CBC, eram tóxicos para as células de câncer de mama triplo-negativas. A maior parte dessa citotoxicidade foi atribuída ao CBD, escrevem os autores, com o CBC e o terpeno aumentando sua força: um caso clássico de efeito comitiva. Uma semana depois, um artigo no Journal of Food Biochemistry chamou a atenção para um estudo que administrou beta-cariofileno a camundongos pré-tratados com uma droga que induz à demência. Foram restaurados nesses camundongos o reconhecimento e a memória espacial e também melhorados os marcadores biológicos da função cognitiva, além da produção de efeitos antiinflamatórios no cérebro.
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Amaram as news? E ainda tem mais. Vocês viram o brownie gigante de cannabis, com 385 kg? Não tenho ideia de quantos quilos de maconha foram precisos para criar essa maravilha megalômana, mas não tenho dúvidas de que foi uma ótima jogada de marketing da MariMed, uma empresa de comestíveis, que queria apenas promover o lançamento de sua nova linha de brownies e acabou chamando a atenção de toda a imprensa especializada.
Beijinho beijinho, tchau tchau. Porém deixando contigo essa listinha esperta dos eventos canábicos no ano que vem ao redor do mundo. E essa receitinha de space pop corn. É isso, jovem. Bora pro mundo espalhar essas novidades, conto com vocês!
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