Boletim CH#31 ☘️ Falta união na cannabis europeia
Regulamentação da cannabis avança na Europa, apesar de atrasos com a pandemia e os ataques Russos
Bom dia, comunidade!
Tudo massa por aí?
Por aqui, de volta a casita depois de uns dias de viagem por Barcelona, onde acompanhei dois eventos canábicos, o International Cannabis Business Conference e o Spannabis. No ICBC, vi um dia inteiro de conferências e debates B2B bem interessantes. Conversei com gente do mundo inteiro. Conheci gente que eu admirava desde antes de lançar este boletim, como a Laura Ramos, do canal português CannaReporter e o Ngaio Bealum, da estadunidense West Coast Cannabis. Escutei sobre tecnologia, equidade, sustentabilidade na indústria e já estou preparando pautas em cada um desses temas. Depois ainda rolou um after party num hotel pomposo em Barcelona. Paguei de gatinha e compareci. A noite foi divertida e acabou no maior papo com dois produtores de cannabis do sul da Espanha, falando sobre Fellini com uns gin tonic na mão. Gostei tanto que devo repetir a dose no ICBC Berlim, no meio do ano.
Depois, o Spannabis. Pois… o Spannabis foi uma loucura. Tinha tanta gente, mas tanta gente que não consegui realmente processar tanta informação rs. Treta. Mas bacana, conheci a querida Vivi Sedola, da Dr. Cannabis, outra das minhas primeiras referências. Vi produtos cada vez mais refinados e também muito blá blá que não se sustenta. A indústria tá crescendo e como sempre, crescer implica em separar o joio do trigo, como diria minha avó.
Barcelona por uma semana inteirinha de cinza. Acho que eu não vivia isso há anos. Barcelona sempre tão ensolarada. Pois, desta vez, não. Cinza, chuva, frio. Mas também uma delícia rever minha gente, passear de novo pelas callecitas. Me dei conta que visitar Barcelona é uma delícia. Viver cansa, mas visitar vai de dez. Foi emocional, foi bagunçado, foi delícia. Estar de volta em casa é massa também. Saudade do calorzin, do mar(avilhoso), do gato da vizinha rsrs.
Voltando, publiquei há uns dias no Poder360 um artigo sobre o panorama da cannabis na Europa, que está pronta para assumir o protagonismo da indústria mas ainda sofre com os atrasos ocasionados pela pandemia e, agora, pelo ataque Russo à Ucrânia. Vai lá ;) Ah! Também ia participar de uma live com o Dave Coutinho, da Smokie Buddies, sobre cannabis e comunicação, à convite da USA Hemp, mas toda hora caía e acabou não rolando. Vou avisar aqui quando tiver remarcado, fechou?
Amigues, vamos ao nosso boletim, que tá especial. Vem ver!
☘️ Estudo inédito mostra impacto positivo da cannabis na população carcerária
>>> Um estudo inédito realizado pelo Centro de Atendimento e Acompanhamento de Toxicodependências do Centro Penitenciário de Brians, ICEERS e Universidade Rovira i Virgili mostrou que a cannabis “melhora a qualidade de vida na prisão e reduz a medicalização”. Este trabalho, publicado na última edição da Revista Espanhola de Saúde Penitenciária, foi realizado com a colaboração dos próprios reclusos, pessoas vulneráveis e estigmatizadas inscritas em programas de promoção da saúde no ambiente prisional, que se reuniram várias vezes com os investigadores para desenhar o estudo e contactar a população prisional, fazendo parte de um processo de criação de conhecimento cientifico. Uma das principais razões apontadas pelos internos para o consumo de maconha foi a redução do uso de outros medicamentos ou drogas, demonstrando que o uso da planta é uma estratégia de redução de riscos e danos. Outras razões incluíram diminuição do estresse ou tristeza e melhora do sono. “Neste estudo descobrimos que a cannabis é útil para lidar com as condições estressantes que a vida na prisão implica e que nos permite reduzir a medicalização, que é um grande problema entre a população carcerária. Em um contexto social em que se debate a necessidade de implantação de um programa de cannabis medicinal, nossa pesquisa evidencia a necessidade de que o acesso à cannabis seja estendido ao ambiente prisional”, destaca o Dr. José Carlos Bouso, coordenador do estudo.
☘️ Universidade de Nova York, Yale e John Hopkins se juntaram para criar um currículo psicodélico
>>> À medida que os tratamentos psicodélicos se aproximam da aprovação regulatória, há um problema iminente na indústria: a falta de profissionais treinados que possam lidar com compostos tão poderosos. Os psicodélicos são substâncias que alteram a mente, e pode levar horas para os profissionais orientarem os pacientes através da experiência para o tratamento de condições como transtorno de estresse pós-traumático e depressão, por isso muito em breve serão necessários dezenas de milhares de profissionais treinados quando os medicamentos psicodélicos chegarem ao mercado. Nos últimos anos, universidades de renome nos EUA começaram a estabelecer centros para estudar compostos como psilocibina e MDMA. A Universidade Johns Hopkins, a Universidade de Yale e a Universidade de Nova York anunciaram na semana passada que estão colaborando para criar um currículo psicodélico para psiquiatras. Uma doação de US$ 1 milhão financiará pesquisadores nas três escolas nos próximos dois anos para desenvolver um currículo para psiquiatras e criar materiais educacionais para médicos de outras especialidades. Essa colaboração é o mais recente sinal de que as principais instituições acadêmicas e médicos estão se preparando para este novo e sonhado novo capítulo da medicina.
☘️ Autoadministração de cannabis melhorou a náusea de 96% de participantes de um estudo
>>> Mais de 90% dos pacientes com náusea que se automedicam com produtos de cannabis relatam que a substância é eficaz no alívio dos sintomas. De acordo com dados publicados no Journal of Clinical Gastroenterology, extraídos por uma equipe de pesquisadores afiliados à Faculdade de Farmácia da Universidade do Novo México avaliou os efeitos da cannabis na intensidade dos sintomas de náusea em 886 indivíduos durante três anos. Os participantes do estudo autoadministraram cannabis em casa e relataram alterações nos sintomas em tempo real em um aplicativo. Cerca de 96% dos participantes do estudo relataram alívio dos sintomas após a administração de cannabis. Os participantes, em média, experimentaram uma redução na intensidade dos sintomas de -3,85 pontos em uma escala analógica visual de 0 a 10. A maioria dos participantes começou a sentir alívio dentro de cinco minutos após a inalação de cannabis. Preparações de flores contendo porcentagens mais altas de THC e porcentagens mais baixas de CBD foram classificadas como mais eficazes.
☘️ Estudo inédito descobriu como agem os psicodélicos no cérebro
>>> Mas, afinal, como funcionam os psicodélicos? Atrás dessa resposta foi que uma equipe de pesquisadores da McGill University e do Montreal Neurological Institute Hospital em associação com o Broad Institute em Harvard demonstraram como as mudanças psicodélicas na consciência estão enraizadas em sistemas receptores de neurotransmissores específicos. Embora ainda haja um longo caminho até entender como os psicodélicos alteram os estados de consciência, este estudo inédito fornece informações importantes para pesquisadores clínicos e neurocientistas interessados em como essas substâncias podem ser benéficas como terapias para vários distúrbios, incluindo esquizofrenia e depressão. O estudo coletou depoimentos de 6.850 pessoas que tomaram uma variedade de 27 substâncias psicodélicas diferentes. Usando uma abordagem de machine lerning, eles conseguiram extrair dos relatórios palavras comumente usadas pelos participantes e vinculá-las aos sistemas de neurotransmissores que temos no cérebro. Usando milhares de sondas de transcrição de genes, a equipe conseguiu renderizar um mapa 3D dos receptores cerebrais com experiências subjetivas específicas mapeadas para eles. Embora a experiência psicodélica seja muitas vezes muito pessoal e varie entre os indivíduos, o grande conjunto de dados permitiu identificar estados coerentes de consciência entre os indivíduos. Um exemplo de como os psicodélicos podem ser usados como intervenção psiquiátrica envolve o sentimento de desapego conhecido como dissolução do ego. O estudo descobriu, por exemplo, que esse sentimento estava mais associado ao receptor de serotonina 5-HT2A. Medicamentos que agem nele podem ser capazes de também criar esse sentimento de forma confiável para os pacientes. Esse estudo deu o primeiro passo, uma prova de que seremos capazes de construir sistemas de machine learning no futuro que possam prever com precisão quais combinações de receptores de neurotransmissores precisam ser estimuladas para induzir um estado específico de experiência consciente em uma determinada pessoa.
☘️ Barcelona é a cidade europeia onde mais se consome cannabis. Como se descobriu?
>>> A maconha experimentou um boom nos últimos tempos que foi especialmente perceptível na Catalunha. Dados da Agência Europeia de Medicamentos (EMCDDA, na sigla em inglês) corroboram esta tese. Barcelona é, segundo as últimas estatísticas da agência, a cidade da União Europeia em cujas águas residuais foi detectada a maior quantidade de cannabis. Os dados, divulgados na semana passada, indicam ainda que se consome mais do dobro de maconha em Barcelona do que em Amsterdam, segunda cidade da lista. Em Barcelona, são detectados diariamente uma média de 450 miligramas de cannabis por 1.000 habitantes. Em Amsterdam, pouco mais de 150 miligramas. O aumento que a cidade catalã experimentou atesta que a presença da substância em suas águas residuais aumentou 200% em relação a 2019, antes da covid, quando a quantidade era de 149 miligramas por dia a cada 1.000 habitantes. Eu pesquisei uma e outra vez mas não consegui determinar se as águas residuais são, necessáriamente, o que a gente manda embora pela descarga. Se é assim, os caras estão analisando nosso xixi… e pode um negócio desse?
☘️ Grande maioria de residentes de medicina querem que a cannabis seja incluída no currículo da carreira
>>> A maioria dos médicos residentes tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o uso de cannabis para fins medicinais, de acordo com dados de pesquisa publicados na revista BMJ Primary Care. Uma equipe de pesquisadores da Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai, em Nova York, pesquisou um grupo de residentes de medicina sobre seu conhecimento sobre o uso medicinal da cannabis. Cerca de 93% dos entrevistados disseram não ter conhecimento adequado sobre os efeitos gerais da cannabis e 97% disseram não ter conhecimento suficiente para prescrever. Entre os participantes, 83% disseram que "não tinham certeza de onde encontrar informações relevantes" e 92% concordaram que a educação sobre cannabis deveria ser incluída em seu treinamento.
☘️ Mais de um terço das empresas de cannabis dos EUA não são lucrativas
>>> Só se fala de cannabis. E talvez por isso você acredite que a cannabis não é um mercado, mas uma mina de ouro. Só que, sorry te dizer, amiguinhx, não é bem assim não. Uma pesquisa recente da National Cannabis Industry Association (NCIA) e da Whitney Economics descobriu que 37% dos negócios de cannabis nos EUA não são lucrativos. Das 396 empresas de cannabis em todo o país que foram pesquisadas, apenas 42% foram consideradas lucrativas, enquanto 21% sentiram que seus investimentos estavam no zero a zero, de acordo com os resultados da pesquisa. Alguns desafios específicos enfrentados pelo setor são a concorrência do mercado ilícito e a tributação excessiva. Além disso, a falta de acesso a bancos e a volatilidade dos preços são tidos como possíveis obstáculos para os empreendedores nesse mercado, diz o relatório. Beau Whitney, fundador da Whitney Economics, não ficou surpreso com os resultados. “A narrativa por aí é que todo mundo está nadando em dinheiro por causa da cannabis, mas a menos que você tenha US$ 3 milhões, você não poderá cobrir um empréstimo, aluguel ou a papelada que ter um negócio em cannabis gera”.
☘️ Colheita de cânhamo de limpeza de solo contaminado é segura para uso têxtil
>>> Estima-se que existam cerca de 10 milhões de solos contaminados em todo o mundo, com mais da metade sendo especificamente contaminação por metais pesados. Uma das principais ferramentas à nossa disposição para tal limpeza é o cânhamo, com sua incrível capacidade de absorver metais pesados onde é plantado. Devido ao estigma da planta de cânhamo, seu uso ainda é um pouco limitado em todo o mundo, embora a prática esteja sendo usada em cada vez mais lugares. Por exemplo, ao redor da maior siderúrgica da Europa, na Itália, para limpar o solo contaminado da área. E como falamos outras vezes, também em Chernobyl. O cânhamo amadurece em 3 ou 4 meses e, ao longo de seu processo de crescimento, vai sugando metais pesados do solo, uma maneira ecológica e eficiente de limpar a terra. À medida que o estigma político em torno do cultivo de cânhamo diminui em todo o planeta, é uma técnica que nos próximos anos deve se popularizar. Uma pergunta óbvia é o que fazer com o cânhamo colhido. Tão óbvia, que uma equipe de pesquisadores na Bélgica não se conformou que ainda não houvesse uma resposta e lá foi plantar cânhamo em solo contaminado com o objetivo de testar os níveis de contaminação do próprio cânhamo. Os pesquisadores queriam saber se as fibras de cânhamo provenientes de plantas de descontaminação ainda poderiam ser usadas para fabricar têxteis e descobriu que sim. Os níveis de metais pesados encontrados no próprio cânhamo estavam muito abaixo dos limites de metais pesados para a segurança têxtil em todas as mostras. Vale a pena notar que este estudo em particular analisou apenas os níveis de contaminação no que diz respeito aos têxteis. O cânhamo pode obviamente ser usado para fazer alimentos e outros consumíveis, incluindo aqueles que as pessoas inalam, e mais pesquisas são necessárias sobre colheitas de cânhamo em locais contaminados e se as colheitas podem ou não ser ingeridos ou inalados.
☘️ Nomes de cepas não significam muita coisa e dão falsa sensação de diversidade
>>> O que aconteceu quando os pesquisadores levaram milhares de amostras de cannabis com 396 nomes diferentes de cepas para um laboratório? As amostras analisadas acabaram compondo apenas três agrupamentos químicos distintos. A partir da análise, os cientistas concluíram que o nome da cepa de um tipo específico de cannabis basicamente não significa muita coisa. “A variabilidade muito limitada nos perfis químicos mostra que a maioria desses quimiovars, embora com nomes diferentes, são quase os mesmos ou pelo menos muito semelhantes”, escreveram os responsáveis pelo estudo, publicado na Cannabis and Cannabinoid Research no mês passado. Os pesquisadores coletaram mais de 2.600 amostras de flores de cannabis em Nevada entre janeiro de 2016 e junho de 2017, depois, mediram os perfis químicos por meio de um laboratório de testes, que analisou o conteúdo de canabinóides e terpenos em cada amostra. Ao analisar os perfis de canabinóides, os pesquisadores encontraram que 93% das amostras poderiam ser agrupadas em três grupos. Em relação aos terpenos, houve três agrupamentos distintos, representando 59%, 33% e 8% de todas as amostras. Eles também coletaram amostras representativas de DNA de cada quimiovar e encontraram 12 ramos genéticos distintos. Com isso, puderam afirmar que a composição do terpeno “é muito mais indicativa da origem e do fundo genético da amostra do que o perfil de canabinóides”. E destacaram a falta de padronização nos nomes das cepas de cannabis, que são “mal ou nada definidos” e que isso “cria uma situação confusa para os pacientes, que dependem das identificações e dados de potência nas embalagens”. Se os nomes comerciais têm pouca relação consistente com o genótipo ou o fenótipo químico, então tá bem equivocado que sejam a base primária fornecida aos pacientes para a tomada de decisões. A falta de rotulagem precisa, perfis químicos inconsistentes de produtos de maconha e dados de testes limitados “tornam difícil ou impossível para muitos pacientes obter um perfil químico consistente do produto.
☘️ Poucos pais sabem sobre o uso de CBD em crianças
>>> Um terço dos pais dos EUA nunca ouviu falar sobre o uso de CBD para crianças, enquanto quase metade (46%) disse que não sabe muito sobre o uso dos produtos disponíveis para crianças, de acordo com uma pesquisa do Hospital Infantil CS Mott. Apenas 3% dos entrevistados disseram “saber muito” sobre o uso de CBD em crianças, e 17% dizendo ter algum conhecimento sobre produtos de CBD para seus filhos entre 3 e 18 anos. Ao todo, 71% dos pais entrevistados nunca usaram um produto de CBD, enquanto 24% o experimentaram e 5% usam regularmente. Quase todos os pais pesquisados (90%) disseram que não deram nem consideraram dar a seus filhos um produto com a substância, enquanto 2% o fizeram e 4% o consideraram. Os potenciais efeitos colaterais do CBD foram o fator número um para 83% dos pais, seguidos por se foi testado quanto à segurança (78%), e eficácia em crianças (72%). Mais uma vez o papel dos médicos na popularização da substância se mostra fundamental, com 63% considerando seu aval fundamental para testá-la em seus filhos. Pesquisa cheia de dados, ufa. Dois terços disseram achar que o CBD pode ser uma boa opção para crianças quando outros medicamentos não funcionam, e um terço disse que tomar CBD é o mesmo que usar cannabis rica em THC. Ou seja, ainda tem chão até educar e contextualizar a cannabis na nossa sociedade. E isso porque é nos EUA, imagina no Brasil.
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Você talvez tenha notado que não comento muito as notícias do momento, primeiro porque este é um espaço para falar de cannabis e psicodélicos, às vezes com alguma pirada astrológica mas certamente não para comentar hard news, até porque, não tenho opinião sobre tudo. Mas a Rússia, gente, a Rússia tá tão equivocada! Além de tudo que a gente já sabe, os caras agora prenderam a Brittney Griner, jogadora de basquete norte-americana, porque ela levava uma azeite de cannabis na bolsa quando saía do país no mês passado, um “delito” que pode dar 10 anos de cadeia. Inacreditável. Não vamos deixar a peteca cair, porque também tem coisa boa acontecendo. Uma lista cada vez maior de mulheres que constróem ativamente o mercado de psicodélicos ao redor do mundo. E a profissionalização dos budtenders, que se formam em cursos que perpassam todas as nuances da cannabis para uma melhor compreensão, e, por supuesto, indicação ao consumidor.
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Beijos e abraços,
Anita