Boletim CH#38 ☘️ Cannabis no Brasil poderia beneficiar mais de 500 mil pets
Relatório inédito sobre terapia canabinoide em cães e gatos projeta que o setor arrecadaria até R$ 109,5 milhões aos cofres públicos até o 4º ano de legalização
Oi oi oi!
Chegou o seu boletim quinzenal com as notícias mais relevantes sobre e cannabis e psicodélicos. Como sempre, nosso objetivo é que você saia dessa leitura bem informado e preparado para conversar sobre o tema em qualquer roda de conversa.
Hoje, sem muita inspiração. Seguimos consternados com a prisão de Brittney Griner na Rússia, depois de ser pega no aeroporto com um vaporizador e óleo de cannabis. Seu julgamento começou há dez dias, e a atleta do basquete americano precisou se declarar culpada por instrução de seu advogado, que entende que o juiz do caso levará em conta a autodeclaração como um sinal de que Brittney reconhece seu erro e assim, talvez, tenha alguma compaixão na hora de proferir a sentença.
Consternados estamos também com a prisão de um jovem brasileiro de 25 anos na Indonésia. Outra pessoa detida injustamente ao atravessar as fronteiras de um país com leis de drogas bastante rígidas. No caso dele, menos de 3 gramos de cannabis na mochila. O estudante, que comprou a substância com receita médica na Tailândia antes de viajar à Indonésia, é paciente medicinal e membro de uma associação no Brasil. Conversei com a família do rapaz, que obviamente está em frangalhos com a injusta detenção e prefere que o assunto não ganhe mais visibilidade na imprensa, pois isso poderia complicar ainda mais a situação. Decidi não publicar nada sobre o caso em respeito à família, com a esperança de ele seja libertado o quanto antes. Espero sinceramente que os colegas jornalistas também possam respeitar a família nesse momento tão delicado. Força! É isso, enquanto alguns países têm uma política mais progressista e outros ainda estiverem no século passado, estaremos em risco de mudar de um século para outro em apenas uma fronteira.
Publicamos no Estadão uma reportagem sobre o uso da terapia canabinoide no contexto veterinário no Brasil. Explico, tin tin por tin tin, sobre como a prática, considerada ilegal, já se estabelece no Brasil como um dos maiores potenciais terapêuticos para uma enorme variedade de patologias em cães e gatos, como câncer, epilepsia, osteoartrite e dor crônica. Na matéria, que nasceu à raiz de dados inéditos e exclusivos cedidos pela Kaya Mind, conversei com Fábio Mercante de San Juan, da Dr. Pet Cannabis, com Talita Nader, presidente do grupo de estudos sobre cannabis medicinal no Conselho Regional de Veterinária de SP, com Karina Wogel, da VetCannabis e o professor Erik Amazonas. Espero que gostem.
Já foi espiar o lançamento mais bombástico do ano na Netflix? A série How to Change Your Mind — inspirada no livro do Michael Pollan e apresentada pelo próprio — tá no ar desde ontem e adivinha? Já maratonei rs. Corre lá, tem altas chances de você mudar de ideia. E se você já mudou, vale enviar pros pais, tios, professores…
Sem mais delongas, vamos de news!
☘️ Pacientes poderão acessar cannabis medicinal sem receita em Washington DC
>>> Enquanto acessar cannabis para fins medicinais no Brasil ainda é um trâmite bastante burocrático, na capital dos EUA ficou tudo mais fácil quando a prefeita de Washington, DC, Muriel Bowser, assinou, na semana passada, um projeto de lei permitindo que os pacientes se autocertifiquem que usam cannabis para fins médicos e eliminando a exigência de recomendação médica. A medida foi aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal no final de junho. “Tornamos prioridade ao longo dos anos construir um programa de maconha medicinal mais centrado no paciente e esta legislação se baseia nesses esforços. Sabemos que, ao trazer mais pacientes de maconha medicinal para o mercado legal em tempo hábil e fazer mais para nivelar o campo de jogo para fornecedores licenciados de maconha medicinal, podemos proteger os pacientes, apoiar as empresas locais e fornecer clareza à comunidade”, disse Bowser em um comunicado de imprensa. Embora possa parecer um avanço, na verdade, tem tudo para virar um tiro no pé. Se eu me autocertifico e uso a substância para tratar determinada patologia sem a orientação necessária, é muito provável que eu não alcance o resultado esperado. Sem observar uma melhora clara da minha condição, então facilmente posso virar um detrator da cannabis e sair por aí dizendo que ela não funciona…
☘️ Microdose pode melhorar o humor e a saúde mental, diz novo estudo
>>> Tomar pequenas quantidades de cogumelos psicodélicos pode melhorar o humor e a saúde mental, de acordo com um novo estudo que aumenta as evidências sobre o potencial terapêutico da microdosagem. A pesquisa, publicada no mês passado na revista Scientific Reports, acompanhou por um mês a 953 pessoas que tomaram quantidades muito pequenas de psilocibina e outro grupo de 180 pessoas que não fizeram a microdosagem. Cientistas, incluindo os da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, descobriram que a microdosagem mostrou maiores melhorias no humor, na saúde mental e na coordenação mente-corpo durante o período de um mês, em comparação com colegas sem microdosagem que completaram as mesmas avaliações. “Este é o maior estudo longitudinal de microdosagem de psilocibina até o momento e um dos poucos estudos a envolver um grupo de controle”, disse o coautor Zach Walsh em comunicado. No estudo, os participantes foram solicitados a completar uma série de avaliações durante o período de estudo de 30 dias que abordou sintomatologia de saúde mental, humor e medidas de cognição. Um teste de toque no dedo do smartphone também foi integrado ao estudo para medir a capacidade psicomotora, que pode ser usada como um marcador para distúrbios neurodegenerativos, incluindo a doença de Parkinson. Figurinha carimbada dos estudos com psilocibina, Paul Stamets, também coautor do estudo, celebrou no Twitter as descobertas.
☘️ Vários estudos estão em andamento para desenvolver medicamentos para o vício em cannabis
>>> A maioria das pessoas não pensa que a cannabis pode ser viciante, mas alguns estudos sugeriram que ela pode dar origem à dependência, formalmente conhecida como transtorno por uso de cannabis. Pesquisas sobre a prevalência desse transtorno oferece estatísticas variadas sobre a frequência com que ela ocorre, mas a maioria sugere que é apenas em uma minoria de usuários. Uma pesquisa de 2019 sobre Uso de Drogas e Saúde dos EUA descobriu que entre os usuários adultos de cannabis, esse número era de cerca de 9%. E ainda que uma parte muito pequena dos usuários de cannabis tenham de lidar com a desordem, algumas empresas já estão desenvolvendo medicamentos para tratá-la. Hoje, pelo menos 17 estudos estão em andamento nos EUA para desenvolver produtos farmacêuticos para tratar o transtorno do uso de cannabis. Uma delas, a Microdoz Therapy, planeja tratar o abuso de cannabis com cogumelos mágicos. Não é estranho usar um psicodélico para lidar com vicio em outro? A beleza da psilocibina é que ela não vicia ;)
☘️ Empresas de cannabis e psicodélicos oferecem suporte financeiro às trabalhadoras que precisem viajar para realizar um aborto nos EUA
>>> Após a reversão da garantia do direito federal ao aborto nos EUA, algumas clínicas já estão fechando suas portas e muitas americanas agora não poderão acessar os serviços de aborto em seu estado de origem. Algumas delas estão procurando instituições de caridade e recorrendo a seus empregadores para cobrir as despesas de viagem para acessar o direito ao aborto em outros estados. Estamos de olho se as empresas de cannabis e psicodélicos optam por oferecer esse suporte para seus funcionários. Irwin Simon, CEO da Tilray, com sede em Nova York, anunciou que a empresa atualizaria seus benefícios de saúde para apoiar os funcionários com os custos associados ao aborto, segundo relatou o BNN Bloomberg. “Considerando a recente decisão da Suprema Corte dos EUA, estamos atualizando nossos benefícios de saúde para todos os funcionários da Tilray – farmacêutica de cannabis com sede em NY – para incluir a cobertura de despesas de transporte para funcionárias e seus familiares para ter acesso aos cuidados reprodutivos de que precisam e escolhem”, tuitou Simon. A primeira empresa de psicodélicos a responder com destaque às notícias foi a atai Life Sciences, apoiada pelo CEO da empresa, Florian Brand, que escreveu em seu LinkedIn pessoal: “Nós da atai Life Sciences faremos tudo o que pudermos para apoiar e proteger os direitos dos membros de nossa equipe à saúde fundamental. Vamos todos nos comprometer a trabalhar juntos para corrigir um erro e garantir que a #saúde continue sendo um direito – não um privilégio – para todos, em todos os lugares.” Enquanto isso, a cofundadora da COMPASS Pathways, Ekaterina Malievskaia, escreveu em sua conta pessoal no LinkedIn: “Não aprendemos com décadas de Guerra às Drogas. Agora, estamos travando uma guerra contra a saúde da mulher.” A COMPASS afirmou que a empresa “cobrirá os custos de viagem para aqueles que procuram um aborto que não podem acessar o procedimento legalmente em seu estado de origem”.
☘️ As flores seguem sendo o trendy da cannabis
>>> Os consumidores de cannabis nos Estados Unidos e Canadá consomem predominantemente a flor da cannabis em vez de outras formulações de produtos, de acordo com dados publicados no International Journal of Drug Policy. Investigadores afiliados ao Centro de Pesquisa de Políticas de Drogas na Califórnia e à Universidade de Waterloo em Ontário, avaliaram os padrões de consumo de cannabis nos EUA e no Canadá em uma amostra de mais de 40.000 indivíduos. Consistente com pesquisas anteriores, eles relataram que “a flor seca foi o produto mais usado” entre os consumidores – independentemente de esses consumidores frequentarem o mercado lícito ou ilícito. No entanto, os investigadores reconheceram que a popularidade de outras formulações de cannabis, particularmente óleos vape e comestíveis, aumentou nos últimos anos – especialmente em mercados onde os produtos de cannabis estão disponíveis legalmente em varejistas licenciados. Os autores concluíram: “O estudo atual fornece uma das avaliações mais abrangentes do consumo de cannabis em nível populacional no Canadá e nos EUA até o momento. As descobertas destacam a natureza em rápida evolução do mercado de produtos de cannabis, incluindo mudanças notáveis nos tipos de produtos de cannabis usados pelos consumidores.”
☘️ Califórnia elimina imposto sobre cannabis para ajudar a indústria legal
>>> A Califórnia está reformulando significativamente sua estrutura tributária de cannabis, incluindo a eliminação total de um imposto sobre os produtores, em um esforço para impulsionar uma indústria legal em dificuldades que implora por alívio. As mudanças, que foram adotadas na semana passada como parte de um acordo orçamentário estadual mais amplo, também criarão créditos fiscais para algumas empresas de cannabis, expandirão os direitos trabalhistas dentro do setor e mudarão a cobrança de um imposto estadual de distribuidores para varejistas. Esse imposto será suspenso em 15% por três anos, após os quais os reguladores poderão aumentar a taxa para recuperar a receita perdida com a interrupção do imposto de cultivo. Grupos proeminentes da indústria de cannabis elogiaram o plano por seu potencial para reduzir custos e ajudar a tornar as vendas legais mais competitivas com um mercado ilícito que permanece robusto seis anos depois que os eleitores da Califórnia legalizaram a cannabis recreativa. No entanto, mesmo com a aprovação esmagadora do Legislativo, a medida foi recebida com descontentamento de varejistas que dizem que não se beneficiarão. Além de dar aos cultivadores uma redução de impostos, muitos dizem que os varejistas também precisam dos tais 15% de redução no imposto sobre vendas para que as empresas regulamentadas possam competir com a indústria não regulamentada em expansão.
☘️ Projeto de lei para a legalização da cannabis na Alemanha deve ficar pronto até o fim do ano
>>> Há alguns meses acompanhamos de perto os movimentos na Alemanha para a legalização da cannabis medicinal, industrial e também recreativa. Pelo andar da carroagem, o projeto de lei de cannabis da Alemanha deve ficar pronto até o final deste ano, com o lançamento de seu mercado de uso adulto parecendo cada vez mais provável para 2024. Ao longo do mês de junho, mais de 200 profissionais em drogas, medicina, direito e negócios estão participaram de cinco audiências de especialistas para se preparar para o processo legislativo planejado. Duas delas – saúde e proteção ao consumidor e proteção de menores – foram realizadas na semana passada, com outras três, voltadas para cadeias de suprimentos, controle e licenciamento e experiências internacionais. Em entrevista ao portal de notícias online alemão WEB.DE, Burkhard Blienert, o Comissário do Governo Federal para Dependência e Drogas, disse que essas audiências abrem caminho para a legislação até o final de 2022. “O governo federal elaborará então um documento sobre questões-chave. Esta é a fase preliminar de um projeto de lei que será então apresentado ao Parlamento.”
☘️ Mercado mundial da cannabis deve chegar a 90 bilhões de dólares até 2026
>>> O mercado global de cannabis deve atingir US$ 90,4 bilhões até 2026, de acordo com um relatório da MarketsandMarkets. Isso equivale a uma taxa de crescimento anual de 28% dos US$ 20,8 bilhões que o mercado de cannabis valia em 2020. Dentro do mercado de cannabis, os concentrados são projetados para ter o maior crescimento até 2026, devido à grande variedade de diferentes tipos de concentrados, incluindo fragmento, broto, resina, cera, óleos e tinturas. Espera-se que o setor de cannabis medicinal domine o mercado com a crescente lista de países que adotam a cannabis medicinal e o uso crescente de CBD, diz o relatório. Além disso, espera-se que o mercado norte-americano continue se expandindo: o Canadá legalizou o uso adulto de cannabis em 2018, o processo de legalização está em andamento no México, mais estados dos EUA aprovam leis de cannabis para uso adulto a cada ano e os tratamentos médicos de cannabis na América do Norte nunca foram tão popular. Segundo o relatório, a presença de grandes corporações de cannabis, como Canopy Growth Corp, Aurora Cannabis Inc. e Medical Marijuana Inc., também estimulará o investimento no mercado norte-americano.
☘️ Uso de cannabis foi relacionado ao menor risco de sobrepeso em pacientes com hepatite C
>>> Pessoas com hepatite C têm maior risco de desenvolver síndrome metabólica, que normalmente pode causar ganho de peso, desenvolvimento de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Recentemente, descobriu-se que a cannabis pode auxiliar os pacientes de hepatite C, já que seu uso foi inversamente associado à obesidade em pacientes com infecção crônica pelo vírus da hepatite C, de acordo com dados publicados no Journal of Cannabis Research. Uma equipe de pesquisadores franceses avaliou a relação entre o uso de cannabis ao longo da vida e a obesidade em uma amostra de mais de 6.300 pacientes com HCV. Os autores relataram: “O uso atual de cannabis foi consistentemente associado a menor circunferência da cintura, menor IMC e menores riscos de sobrepeso, obesidade em pacientes com infecção crônica pelo HCV. Até onde sabemos, esta é a primeira vez que tais associações foram destacadas para pacientes infectados pelo HCV.” As descobertas do estudo são consistentes com as de análises de outras amostras relatando que o uso de cannabis está normalmente associado a um IMC mais baixo e a taxas mais baixas de obesidade.
☘️ Legalização da cannabis medicinal associada a maior segurança no trânsito nos EUA
>>> A promulgação de leis de acesso à cannabis medicinal está associada a reduções nos prêmios de seguro de automóvel e melhorias na segurança geral do trânsito, é o que sugerem os dados publicados recentemente na revista Health Economics. Uma equipe de economistas avaliou a relação entre o acesso legalizado à cannabis medicinal (por meio de dispensários licenciados) e os prêmios de seguro automóvel pagos entre os anos de 2014 e 2019. O efeito é mais forte em áreas próximas a um dispensário, sugerindo que o aumento do acesso à cannabis impulsiona os resultados. Embora a redução de US$ 22 possa ser irrelevante para um segurado individual, os efeitos agregados são economicamente significativos. “Estimamos que a legalização da cannabis medicinal reduz os prêmios anuais de seguro automóvel em US$ 22 por família, uma redução de 1,7% para a família média”, disseram. Estendendo os resultados para outros estados, descobriu-se que a legalização da cannabis medicinal reduziu os prêmios de seguro de automóvel em US$ 1,5 bilhão em todos os Estados legalizados. As descobertas do estudo corroboram análises anteriores que relataram uma diminuição nas mortes no trânsito após a implementação do acesso à cannabis medicinal, incluindo reduções nos acidentes envolvendo motoristas sob a influência de álcool ou opióides.
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Por hoje é isso, pessoal. Nos despedimos com a notícia de que a Abrace, associação de pacientes de cannabis medicinal, conseguiu autorização para testar seus próprios produtos. Com essa reportagem do The New York Times, traduzida pela Folha de S.Paulo, sobre o aumento dos níveis de THC nos últimos anos, que vem desencadeando vômitos, vício e psicose entre adolescentes. E essa outra reportagem também no NY Times, traduzida e publicada pelo Estadão, sobre o uso de psicodélicos por mulheres que buscam curar traumas.
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Beijos e abraços,
Anita