Boletim CH#43 ☘️ O marketing orgânico da cannabis
Para evitar derrubada de publicações em redes sociais e sanções da Anvisa, companhias criam novas estratégias para comunicar produtos e serviços relacionados à substância
Oi pessoal, tudo certo por aí?
Por aqui, já instaladinha no meu novo lar, no pé da montanha, a 15 minutos da praia, tudo massa. Deixar Fuerte foi fueda. Aqueles vulcão lindo, aquelas praias que só de fechar os olhos me transporto de volta pra lá... Mas, como dizia seu Geraldo, a vida é cigana, é caravana. E cá estou, com as Canárias no coração e planos de voltar sempre.
Eu, que vestia shorts e top o dia inteiro quase todos os dias, escrevo este boletim encapotada de roupa. O look mudou, e a paisagem também. Árvores mil, javaporcos por toda parte. Se tiver uma dica aí sobre javaporcos, tô aceitando. Como lidar, como fazer amizade — ou se melhor não? rs. Tou querendo plantar uma horta… adivinha de que? rsrs e adoraria mantê-los não tão perto, digamos. Também aceitando dicas aqui na caixa postal ;)
Entre entregas de eletrodomésticos, limpezas, organizações e saco cheio de ligar na Movistar para instalar a p…. da internet, sigo na investigação e escritura sobre cannabis e psicodélicos, para a nossa alegria :)
Há poucos dias, publiquei uma reportagem sobre como o mercado da cannabis tem usado o marketing orgânico para desviar de barreiras impostas pela Anvisa e pelas redes sociais. Na feitura da reportagem, conversei com grandes profissionais de marketing de empresas com as estratégias mais criativas do setor. Tá lá no Estadão.
Também discuti os caminhos da legalização do uso recreativo da cannabis na Alemanha, que deve influenciar toda a Europa, e provavelmente estreitará a relação do bloco com a erva. Na nossa coluna no Poder360 ;)
Com Prohibition Partners, publiquei uma análise sobre o mercado do cânhamo no Paraguay, país que se destaca com folga e já é o líder inconteste no processamento da matéria-prima na América Latina.
Vamos com mais news?
Bora ;)
☘️ Maternidade psicodélica: as mães que tomam cogumelos para aliviar a pressão
Elas não são exatamente hippies e não são jovens de 20 anos em busca de segurança existencial. São mães e estão saindo do armário psicodélico para compartilhar como a microdosagem as ajudou a lidar melhor com todos os desafios que chegam junto com o pacote da maternidade. Com a descriminalização dos cogumelos finalmente ganhando força, a “maternidade com plantas” ou a “maternidade psicodélica” está se tornando uma prática mais aceita e em tendência de crescimento, conforme nos conta o CPR News. Os pais que fazem microdose afirmam que pequenas quantidades de psicodélicos – não o suficiente para ficar doidão, mas o suficiente para ver a coisa de um ângulo um pouco diferente – os ajudam a lidar com a depressão e a ansiedade que acompanham a responsabilidade de ter —e ter de suprir — uma família. Ser mãe ou pai é o trabalho mais importante do planeta, com muitas incertezas pelo caminho, dúvidas existenciais. Me parece que qualquer método que funcione para manter o otimismo e quebrar os ciclos de pensamentos ruminantes é um antídoto bem-vindo para os desafios da maternidade e paternidade modernas. Embora os ensaios clínicos de MDMA e cetamina estejam proliferando no mundo, ainda vai demorar para que estas substâncias estejam disponíveis em ambiente recreativo com um alto padrão de qualidade. Dosagens padronizadas ou conhecimento certificável de como os pais pode alcançar certos benefícios da psilocibina não aparecerão de um dia para o outro em rótulos de produtos vendidos na esquisa, mas para aqueles pais que já descobriram como consumir cogumelos de forma segura e feliz –– a experiência é o que importa.
☘️ Pais que usam cannabis serão tratados da mesma maneira que os que usam álcool e drogas prescritas na Califórnia
Falando nisso… No início desta semana, o Gothamist publicou que, apesar das mudanças na lei, as famílias em Nova York ainda estavam sendo perseguidas pelo uso de cannabis pelo Child Services. A Califórnia foi rápida e aprovou um projeto de lei para garantir que a mesma coisa não aconteça com os pais californianos, história que o Marijuana Moment contou. Embora o uso de cannabis por si só seja suficiente em alguns estados para justificar a remoção de crianças de um lar, o novo projeto de lei afirma que na Califórnia “quando um assistente social está investigando um suposto caso de abuso ou negligência infantil, o uso ou posse de cannabis por um dos pais ou responsáveis é tratado da mesma maneira que o uso ou posse de álcool e medicamentos legalmente prescritos para os pais ou responsáveis”. O deputado Reggie Jones-Sawyer, que criou o projeto de lei, afirmou que “o uso de cannabis por si só não deve ser uma base para a intervenção do Estado na vida familiar”.
☘️ A cannabis se mostrou especialmente interessante para o tratamento de coinfectados por HIV e Hepatite C
As pessoas coinfectadas com HIV e hepatite C que consomem cannabis correm um risco menor de estar acima do peso, de acordo com dados publicados na revista AIDS Education and Prevention. Investigadores franceses avaliaram a relação entre o uso de cannabis e o índice de massa corporal (IMC) em uma mostra de 992 pacientes HIV/HCV. Consistente com pesquisas anteriores, eles relataram que o histórico de uso de maconha estava “inversamente associado ao aumento de IMC”. Estudos anteriores envolvendo indivíduos HIV/HCV também identificaram uma ligação entre o uso de cannabis e um menor risco de diabetes, doença hepática gordurosa e mortalidade precoce. Outros estudos de caso-controle relataram consistentemente que aqueles com histórico de uso de maconha são menos propensos do que os abstêmios a serem obesos ou sofrerem de diabetes tipo 2.
☘️ Usuários de maconha são mais motivados que não usuários, diz estudo
Um novo estudo publicado no International Journal of Neuropsychopharmacology no fim de agosto sugere que o consumo de cannabis não está associado ao aumento da apatia, tomada de decisão baseada em esforço para recompensa, desejo de recompensa ou gosto por recompensa em adultos ou adolescentes. O pequeno estudo também descobriu que os não consumidores de cannabis tinham níveis mais altos de anedonia – a incapacidade de sentir prazer –. Os pesquisadores da University College London (UCL), da Universidade de Cambridge e do King's College London, usaram dados do estudo CannTeen, que incluiu 274 adultos (26 a 29 anos) e adolescentes (16 a 17) que usaram cannabis de um a sete dias por semana nos últimos três meses. Os participantes preencheram questionários para medir a anedonia e de apatia. Os usuários de cannabis pontuaram um pouco mais baixo do que os não usuários em anedonia – em outras palavras, eles pareciam mais capazes de se divertir – mas não houve diferença significativa quando se trata de apatia. Os pesquisadores também não encontraram ligação entre a frequência do uso de cannabis e apatia ou anedonia nas pessoas que usaram cannabis. A autora principal, Martine Skumlien, disse que os resultados da pesquisa foram “contrários ao retrato estereotipado que vemos na TV e nos filmes”. “Tem havido muita preocupação de que o uso de cannabis na adolescência possa ser pior do que o uso de cannabis na idade adulta”, disse ela em comunicado. “Na verdade, parece que a cannabis pode não ter ligação – ou no máximo apenas associações fracas – com esses resultados em geral. No entanto, precisamos de estudos que observem essas associações por um longo período de tempo para confirmar esses achados”.
☘️ Hempcrete aprovado para construção residencial nos EUA
O hempcrete (tijolo de cânhamo utilizado na construção civil) foi aprovado para o modelo de código de construção residencial dos EUA durante uma audiência na semana passada supervisionada pelo International Code Council (ICC), publicou a HempBuild Magazine. O material foi aprovado como apêndice do Código Residencial Internacional (IRC) de 2024, que rege os códigos de construção residencial dos EUA para 49 dos 50 estados. O novo código, programado para ser publicado formalmente em 2023, contará com Hemp-Lime (Hempcrete). Especificamente, o hempcrete foi aprovado como um sistema de preenchimento de parede não estrutural semelhante à construção de sabugo e fardo de palha, de acordo com o relatório. A aprovação se aplica a residências e moradias unifamiliares e bifamiliares e deve aumentar a disponibilidade de materiais de construção à base de cânhamo e facilitar projetos de construção mais verdes nos EUA. O concreto de cânhamo é uma alternativa popular ao concreto feito a partir de uma mistura de cal. Ele cria uma parede de isolamento fibrosa e resistente ao fogo que também atua como uma reguladora de umidade. Além disso, por ser feito de cânhamo – um material orgânico – o concreto de cânhamo é considerado um material de construção que sequestra carbono, o que melhora ainda mais sua sustentabilidade. O pedido bem-sucedido para certificar o concreto de cânhamo para o IRC foi apresentado pela US Hemp Building Association depois de ter arrecadado mais de US$ 50.000 e trabalhando ao lado de um comitê de engenheiros civis, construtores de cânhamo-cal, arquitetos e outros especialistas.
☘️ Pacientes com autismo apresentam melhorias clínicas após o uso de CBD
A administração de cannabis rica em CBD está associada a melhorias clínicas em adolescentes com transtorno do espectro do autismo (TEA), de acordo com dados publicados na revista Translational Psychiatry. Pesquisadores israelenses avaliaram a eficácia do tratamento com cannabis em uma mostra de 82 jovens (de 5 a 25 anos) com TEA. Os participantes do estudo consumiram extratos de cannabis de plantas inteiras – ou full spectrum – (óleos com uma proporção de CBD:THC de 20 para 1) de forma adjuvante durante um período de seis meses. Os investigadores usaram uma variedade de avaliações clínicas padronizadas para avaliar os sintomas dos pacientes antes e imediatamente após o tratamento. E relataram : “Nossos resultados revelaram melhorias significativas nas pontuações gerais, principalmente impulsionadas pela melhora nas habilidades de comunicação social. “Essas descobertas positivas motivam mais estudos duplo-cegos controlados por placebo para determinar a eficácia do tratamento com cepas específicas de cannabis e/ou canabinóides sintéticos.” As descobertas dos pesquisadores são consistentes com as de vários outros estudos que demonstram que o uso de cannabis dominante em CBD está associado à atenuação dos sintomas em adolescentes com TEA.
☘️ Número de obesos diminuiu em estados como Washington após legalização da maconha
Estados que licenciam vendas de maconha para uso adulto percebem uma diminuição nas taxas de obesidade em nível estadual, de acordo com dados publicados na revista Health Economics. Pesquisadores afiliados à North Dakota State University compararam as taxas de obesidade no estado de Washington, após a legalização. Eles relataram: “Nosso experimento primário revelou que a legalização da maconha recreativa, resultou em diminuições nas taxas de obesidade para o estado de Washington”. E concluíram: “À medida que mais estados gravitam para a descriminalização, o uso medicinal expandido e o uso recreativo legalizado da maconha, nossas descobertas fornecem informações importantes sobre a política de drogas contemporânea”. Estudos de caso-controle relataram consistentemente que aqueles com histórico de uso de maconha são menos propensos do que os abstêmios a serem obesos ou sofrerem de diabetes tipo 2. Outros estudos também já associaram o uso de cannabis a maiores taxas de atividade física. Tema quentíssimo esse da relação de psicodélicos e obesidade. Já tem gente inclusive estudando a psilocibina.
☘️ Empresas de cannabis lideradas por mulheres têm mais dificuldade em encontrar financiamento
As empresas de cannabis lideradas por mulheres têm mais dificuldade em levantar capital em comparação com suas contrapartes masculinas, relatou o Yahoo Finance. “O que acabou acontecendo é que, à medida que os estados adotaram modelos de licença mais limitados, ficou muito mais caro entrar no jogo”, disse Nancy Whiteman, CEO da Wana Brands, recentemente ao Yahoo Finance. “E assim, favorece as pessoas que tradicionalmente têm acesso ao capital, que são homens – homens brancos.” De acordo com um relatório do MJBizDaily de 2021 intitulado Estado Atual da Diversidade na Indústria de Cannabis, apenas 19,9% dos negócios de cannabis são de propriedade de mulheres, apenas 8% dos CEOs de cannabis são mulheres e apenas 5% dos executivos de empresas de investimento focadas em cannabis são mulheres . Além disso, a representação executiva de negócios femininos de cannabis no setor caiu de 36,8% em 2019 para 21,1% em 2021, o que está abaixo da contagem executiva de 29,8% encontrada em 2020 em todos os outros setores, observa o Yahoo Finance. O relatório de diversidade disse que iniciar um negócio de cannabis que toca plantas pode chegar a seis dígitos e “as redes de investidores que podem fornecer essa quantia de dinheiro – como indivíduos de alto patrimônio líquido e empresas de capital de risco – podem ser difíceis de chegar até as mulheres”. O relatório descobriu que, mesmo que as mulheres garantam financiamento importante, “as empresas de propriedade de mulheres geralmente recebem menos financiamento e menos recursos do que seus colegas homens”.
☘️ Governador da Califórnia assina lei para proteger trabalhadores que usam cannabis
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, assinou uma série de projetos de lei relacionados à maconha, incluindo uma legislação que protege funcionários da discriminação no local de trabalho por uso de cannabis. Especificamente, o Assembly Bill 2188 torna “ilegal para um empregador discriminar uma pessoa na contratação, rescisão ou qualquer termo ou condição de emprego. Ou mesmo penalizar, se a discriminação for baseada no uso de cannabis fora do trabalho e longe do local de trabalho”, nem submetidos ao teste de detecção de presença do metabólito carboxi THC. O carboxi THC é um subproduto inativo do THC que pode estar presente em uma amostra de urina por até 100 dias após a abstinência. De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a detecção deste metabólito “indica apenas que uma determinada substância está presente no tecido do corpo do sujeito, não indica abuso ou vício; recência, frequência ou quantidade de uso ou prejuízo.” A lei, que não entra em vigor até 1º de janeiro de 2024, é semelhante às já promulgadas em vários outros estados de uso adulto, incluindo Connecticut, Montana, Nova Jersey, Nova York e Rhode Island.
☘️ Pesquisadores estudam drogas psicodélicas como tratamento para a doença de Alzheimer
Uma empresa de biotecnologia com sede em Toronto está pesquisando uma nova substância psicodélica como tratamento para a doença de Alzheimer. A BioMind Labs recebeu aprovação de reguladores na Argentina para iniciar um ensaio clínico de Fase ll do novo composto psicodélico da empresa, o BMND08. “Temos o prazer de anunciar a aprovação de um ensaio clínico de Fase II para nosso novo candidato a medicamento BMND08, que pode permitir abordar uma nova linha de desenvolvimento para atenuar estados de depressão e ansiedade em pacientes com comprometimento cognitivo do tipo Alzheimer”, disse Alejandro Antalich, CEO da Biomind Labs, em comunicado da empresa. A Biomind Labs é uma empresa de pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia que estuda novos medicamentos e sistemas inovadores de entrega de nanotecnologia para uma variedade de condições psiquiátricas e neurológicas. Utilizando sua tecnologia, a empresa está desenvolvendo novas formulações farmacêuticas das principais moléculas psicodélicas, N,N-Dimetiltriptamina, 5-MeO-DMT e mescalina para o potencial tratamento de uma ampla gama de indicações terapêuticas, com foco no acesso aos pacientes a tratamentos acessíveis e inovadores. “Desde o nosso início, as doenças neurodegenerativas estavam na lista de indicações que queríamos abordar. Agora podemos realizar tais indicações usando uma nova maneira que usa uma molécula psicodélica de ação rápida capaz de proporcionar alívio a certos estados de humor quando a doença de Alzheimer aparece pela primeira vez em pacientes”, disse Antalich. “Após uma análise minuciosa sobre o potencial benefício do uso de uma molécula psicodélica para aliviar certos sintomas em pacientes de Alzheimer, concluímos que o candidato mais adequado do nosso portfólio era o BMND08, uma formulação oral de 5-MeO-DMT.”
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É isso, gente. Ficando por aqui, mas com as diquinhas finais, claro: essa reportagem massa demais do meu colega Shin Suzuki, que publicou na BBC uma discussão sobre a utilização de psicodélicos no combate ao medo da morte. Depois, um texto super esclarecedor sobre a interação da cannabis com outros psicodélicos. Acho que esse é o beabá da coisa, o primeiro passo para uma redução de danos real. E tô achando que fiquei meio bitolada no tema, porque a terceira dica é outro texto falando da interação da cannabis, desta vez, com aquele seu amigo de toda manhã – tarde e noite –, o café. Mas não só, também álcool e melatonina. Divirta-se ;)
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Beijoca e até mais,
Anita