Boletim CH#45 ☘️ O jogo de xadrez do CFM
Conselho Federal de Medicina publicou e 10 dias depois suspendeu a Resolução 2324/22, que restringia ainda mais o acesso à cannabis medicinal no Brasil
Opa, beleza?
Chegou o seu boletim sobre cannabis e psicodélicos, aquela leitura de 15 minutos para te atualizar sobre o que está acontecendo de mais importante no Brasil e no mundo.
Do último boletim pra cá, a cannabis medicinal ganhou imenso destaque no nosso país, inicialmente, com a péssima notícia de mais um retrocesso, protagonizado pelo Conselho Federal de Medicina, que na contramão do próprio código de conduta médica, publicou a Resolução 2324/22, restringindo a prescrição de cannabis a apenas duas patologias epilépticas muito específicas, e censurando os médicos, que foram proibidos de dar cursos e palestras sobre cannabis medicinal.
Pânico, desespero, revolta.
O assunto dominou as discussões sobre cannabis no Brasil e deixou médicos, pacientes e qualquer pessoa com um mínimo de bom senso de cabelo em pé. Entrei de cabeça nessa apuração, e só depois de conversar com mais de 40 pessoas do setor, incluindo médicos, empresários, associações de pacientes, advogados e parlamentares, publiquei uma análise aprofundada a respeito. Se você ainda não leu, vai lá. Foi tudo tão absurdo, que o tema se espalhou rapidamente na mídia internacional, e claro que também dei minha pequena contribuição.
Mas graças às manifestações contrárias organizadas por grupos de pacientes e apoiadores da saúde e da vida, que protestaram em frente ao CFM e aos conselhos regionais de medicina pelo país, a tal resolução foi suspensa. Também falei sobre isso aqui. A bem da verdade, os conselheiros do CFM perceberam que tavam queimando o próprio filme e gastando seu capital político à toa. Com a poeira mais baixa, arrisco dizer que o susto serviu para despertar e unir o setor contra o verdadeiro inimigo: o obscurantismo.
Seguimos acompanhando de perto o desenrolar dessa e de outras histórias, vem comigo ;)
☘️ Uber já faz delivery de maconha no Canadá
Os moradores de Toronto são os primeiros canadenses a poder pedir maconha diretamente no aplicativo Uber Eats. Isso, graças a uma parceria entre a Uber e a plataforma Leafly, que decidiram lançar o novo serviço de delivery de maconha (para pessoas com mais de 19 anos de idade) em comemoração ao 4º aniversário da legalização da cannabis no Canadá. Funciona assim: a Leafly prepara os pedidos que podem ser feitos em diferentes varejistas da erva, e a Uber distribui. O marketing da Uber e da Leafly está apostando não apenas na mega comodidade de receber erva sem sair de casa, mas também na segurança nas estradas, já que uma pesquisa recente indiciou que 1 em cada 7 usuários de maconha dirige nas duas primeiras horas depois de chapar o côco. Facilitar a compra de cannabis é tendência também nos EUA. A partir do ano que vem, também será possível comprar produtos de maconha junto com cigarros e lanches nos postos de gasolina Circle K, na Flórida.
☘️ Estudo afirma que usuários de maconha sentem mais dor no pós-cirurgia
Inúmeras pesquisas indicam que a cannabis ajuda no alívio da dor, no entanto, um novo estudo afirma que os usuários de maconha podem sentir mais dor após a cirurgia. A pesquisa foi apresentada na reunião anual da Sociedade Americana de Anestesiologistas há alguns dias, onde os pesquisadores compartilharam suas descobertas: os usuários de maconha precisavam de mais medicamentos prescritos quando comparados aos não usuários. O estudo foi realizado com os dados de mais de 34.000 pessoas (1700 delas usuárias de cannabis) que fizeram cirurgia na Cleveland Clinic, nos EUA. O estudo mostrou que os usuários de maconha experimentaram 14% mais dor durante as primeiras horas após a cirurgia. E, portanto, precisaram consumiram mais opioides, aproximadamente 7% a mais quando comparados aos não usuários. Embora os pesquisadores não entendam por que a maconha está afetando as respostas à dor das pessoas, há algumas teorias, a mais provável é que a interação entre a substância e os receptores de dor – no caso de usuários frequentes, isso significa que a substância pode dessensibilizá-los, fazendo com que sejam mais propensos a sentir dor e necessitar opióides –.
☘️ Usuários de maconha não tiveram sintomas mais graves de psicose que os não usuários
Só porque alguém consumiu cannabis e sofre de problemas de saúde mental, isso não significa automaticamente que o consumo de cannabis foi o responsável por desencadear problemas de saúde mental. Isso pode parecer uma afirmação lógica, no entanto, os contrários à cannabis fazem de um tudo para provar o contrário. A saúde mental é um assunto muito sério e deve ser tratado como tal. Fatos e ciência devem liderar o caminho, se você concorda comigo, vai gostar de saber que os resultados de um novo estudo da Nova Zelândia contradizem certos entendimentos sobre psicose e cannabis. A equipe de pesquisadores avaliou a relação entre o uso de maconha e a gravidade da sintomatologia psicótica em uma amostra de mais de 1.200 pessoas nascidas em 1977. Os pesquisadores compararam o perfil de sintomas de consumidores e não consumidores de cannabis aos 18, 21 e aos 25 anos. E descobriram que os indivíduos consumidores de cannabis eram mais propensos do que os não usuários a relatar uma maior variedade de sintomas psicóticos em geral. No entanto, os investigadores reconheceram que os consumidores não eram mais propensos a relatar sintomas graves. Os pesquisadores concluíram: “Coletivamente, os resultados sugerem que, enquanto aqueles que eram usuários regulares de cannabis relataram um número significativamente maior de sintomas do que os não usuários, o perfil de sintomas entre os dois grupos não diferiu, mostrando que não havia evidência de maior 'gravidade' ' entre usuários regulares de cannabis.”
☘️ Alemanha propõe limitar os níveis de THC para uso recreativo, que deve ser legalizado no país até o meio do ano que vem
Uma versão preliminar da proposta de legalização da cannabis para uso adulto do governo alemão vazou na semana passada e atraiu críticas iniciais de apoiadores e oponentes da reforma. O plano do ministro federal da Saúde, Karl Lauterbach, inclui a legalização da venda de até 20 gramos de cannabis para adultos com mais de 18 anos e a proibição de publicidade que promova o consumo. O autocultivo, claro, está contemplado, com autorização para cultivar duas plantas por pessoa. Outro ponto interessante é o estabelecimento de um limite de 10% de THC em produtos vendidos para jovens de 18 a 21 anos e de 15% para pessoas com mais de 21 anos de idade. A proposta preliminar, publicada pela primeira vez pelo portal RND, é o produto de meses de revisão e negociações dentro do governo e da chamada “coalizão de semáforos”. Autoridades alemãs deram o primeiro passo para a legalização em junho, iniciando uma série de audiências destinadas a ajudar a informar os legisladores. Agora, a proposta deve ser analisada pelo Bundestag e por uma comissão da União Europeia. Sendo muito otimista, a proposta poderia ser aprovada até junho do ano que vem, mas na prática, os alemães devem começar a ter acesso legal à cannabis recreativa só em 2024.
☘️ Pacientes de câncer incurável apresentaram melhora significante da dor ao se tratar com cannabis
Pacientes terminais de câncer com dor refratária responderam bem a um spray de cannabis contendo proporções iguais de THC e CBD, de acordo com dados publicados na revista PLOS One. Uma equipe de pesquisadores australianos avaliou a segurança e a eficácia de um novo spray bucal solúvel em água contendo 2,5 mg de THC e 2,5 mg de CBD em pacientes com câncer avançado e dor intratável. Os pesquisadores disseram que a dosagem de cannabis foi associada a melhorias no alívio da dor entre todos os pacientes, especialmente entre os que padecem de metástase óssea. Os pacientes também relataram melhorias no apetite e bem-estar emocional, sem nenhum evento adverso grave, embora alguns deles tenham experimentado sonolência após o tratamento. “Este estudo demonstrou que a administração do medicamento à base de cannabis foi segura e tolerada em uma exposição de curto prazo em uma amostra de pacientes com câncer incurável, com dor controlada ou dor intratável apesar do tratamento com opioides”, concluíram os autores.
☘️ Novo normal: cerca de ⅖ dos jovens adultos nos EUA consomem cannabis regularmente
O aumento da popularidade da maconha continua crescendo entre adultos com mais de 18 anos, foi o que demonstrou uma nova pesquisa da Universidade de Michigan, apontando que a substância está caminhando para se tornar o novo normal. Os dados mostram que mais de 2/5 dos jovens adultos em todo o país consomem cannabis ocasionalmente. Esses números estão crescendo junto com o número de estados que estão legalizando a erva nos EUA – já são 19 até agora –. Os pesquisadores também notaram que o salto nos números tem sido impulsionado em grande parte pelas mulheres. Os dados do estudo mostram que essa mudança é um desvio marcante dos números pertencentes às gerações anteriores, quando os homens eram os principais consumidores de maconha, ou, pelo menos, os que respondiam abertamente as pesquisas sobre hábitos de consumo de cannabis.
☘️ Pessoas que usam psicodélicos são mais conectadas à natureza, diz estudo
As pessoas que usam psicodélicos como a psilocibina geralmente são mais conectadas à natureza e reconhecem as mudanças climáticas – características que tendem a se traduzir em comportamento pró-ambiental – de acordo com um novo estudo. Pesquisadores da Universidade de Innsbruck, na Áustria, e da Universidade de Zurique, na Suíça, realizaram um estudo para explorar a relação dos psiconautas com a natureza, e suas descobertas foram publicadas recentemente na revista Drug Science, Policy and Law. Estudos e pesquisas anteriores identificaram uma ligação entre o uso de psicodélicos e a relação com a natureza, mas se basearam amplamente em auto-relatos dos participantes. Para explicar essa subjetividade, o novo estudo colocou os entrevistados em um teste real com 641 pessoas de todo o mundo, pedindo que descrevessem seus antecedentes com o uso de drogas e, em seguida, coletando dados sobre três variáveis: relação com a natureza, preocupações com as mudanças climáticas e conhecimento objetivo sobre as mudanças climáticas. E descobriram que o uso de psicodélicos – particularmente a psilocibina – “previu conhecimento objetivo sobre as mudanças climáticas direta e indiretamente por meio do relacionamento com a natureza”.
☘️ Pessoas com estresse pós-traumático dormem melhor com cannabis rica em CBD
Ninguém merece ficar rolando na cama e passar noites em claro, muito menos quando o motivo pra essa disfunção estiver ligado a algum trauma. Por isso, trago boas notícias: o uso de cannabis antes de dormir foi associado a melhorias percebidas no sono em indivíduos diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), disseram os dados publicados no Journal of Anxiety Disorders. Pesquisadores israelenses avaliaram o impacto da cannabis no sono de 77 pacientes com TEPT. Os participantes do estudo mantiveram um diário onde registraram várias medidas de sono todas as manhãs. Os investigadores reconheceram que o uso de cannabis estava associado a melhorias autorrelatadas no início do sono e a uma redução na frequência de pesadelos. Indivíduos que consumiram produtos com maiores quantidades de CBD eram menos propensos despertar no meio da noite. “Nossos dados sugerem que a cannabis medicinal pode ajudar a reduzir pesadelos e que CBD em particular pode ser importante para prevenir despertares precoces”, disseram.
☘️ Novo estudo mostra potencial de cura física da ayahuasca
As substâncias psicodélicas tornaram-se particularmente conhecidas por suas propriedades antidepressivas e de saúde mental. No entanto, o potencial terapêutico desses compostos pode ir além do tratamento de distúrbios de saúde mental, e estender-se a diferentes áreas médicas, entre as quais a regeneração de tecidos e cicatrização de feridas. Embora os estudos que investigam o assunto sejam recentes e relativamente escassos, resultados como os encontrados neste novo estudo podem inaugurar uma nova área de pesquisa psicodélica. Este é um estudo recente onde as propriedades regenerativas da ayahuasca foram investigadas in vitro (ou seja, fora do corpo humano, usando tubos de ensaio), por uma equipe de cientistas em Portugal. O principal objetivo do estudo foi avaliar o potencial da ayahuasca na cicatrização de feridas, observando a migração de um grupo de células cultivadas juntas após um arranhão. O tamanho das lesões foi medido em vários momentos, e em todos eles, mostraram uma diminuição de suas margens. A permeabilidade das células não foi afetada, e em todas as amostras houve aumento na migração dos fibroblastos sem citotoxicidade. Os autores fizeram questão de mencionar as limitações de suas pesquisas, como a natureza in vitro do estudo (que precisa ser confirmada emseres humanos) e a impossibilidade de comparar esses resultados com outros estudos. Ao mesmo tempo, essa limitação também é o que torna sua pesquisa bastante interessante e significativa o suficiente para impulsionar uma investigação mais profunda do assunto.
☘️ Pesquisadores encontraram plástico e metais pesados em produtos de CBD nos EUA
Mais de 500 produtos analisados por uma equipe de pesquisadores revelaram que os contaminantes estão amplamente presentes no CBD, nos conta a Hemp Today. Os pesquisadores, liderados por Hannah Gardener, da Universidade de Miami e duas organizações sediadas no Colorado, também dizem que a rotulagem dos produtos é deficiente, com “discrepância substancial entre as alegações do rótulo do produto para a potência do CBD e a quantidade medida em produtos comestíveis e tópicos”. Para resolver o problema, os autores sugerem que são necessários regulamentos rigorosos para a rotulagem dos produtos de CBD, pois a contaminação por metais pesados e plásticos no canabidiol “pode contrabalançar os benefícios de saúde propostos pelo canabinóide”. Coisa para ficar de olho aberto também no Brasil.
☘️☘️☘️
Por hoje é isso, minha gente. Mas antes de nos despedir, três sugestões rapidinhas. A primeira é essa campanha da farmacêutica europeia Neuraxpharm, que pretende aumentar a aceitação da cannabis medicinal fornecendo melhores informações aos pacientes, médicos e farmácias. O mote da campanha é potente: "se virarmos as costas para a cannabis medicinal, daremos as costas para milhões de pacientes". Se você quiser aprender mais sobre terpenos – compostos que aportam a fragância à cannabis e outras substâncias –, dá uma olhada nesse artigo do Cannigma, que aborda outras propriedades fundamentais na interação dos canabinoides com o nosso corpo. E para terminar, quero que você se revolte comigo com a apelação da jogadora de basquete norte-americana, que foi negada pela corte russa há poucos dias. Usa essa revolta contra as injustiças no mundo e vota 13. Eleger Lula não é a entrada no paraíso, mas já será a saída do inferno.
Curtiu? Achou que faltou alguma coisa? Quer se comunicar com a gente? Venha! cannabishoje@gmail.com
Aperta o coraçãozinho e compartilha a newsletter com as amizades, elas certamente vão gostar de saber mais sobre cannabis e psicodélicos!
Aproveita e segue @cannabishoje no Instagram ;)
Beijos e abraços,
Anita