Cannabis Hoje #79☘️A indústria canábica em festa
Medical Cannabis Fair | Matheus Nachtergaele | Barriga solidária | André Janones | Vida e sobrevida na rua | Bruno Paes Manso | Loucos ou visionários?
olá, olá! tudo bem por aí?
por aqui tudo lindo, coração aquecido depois dos 5 diazinhos em sp, para onde viajei especialmente para participar da medical cannabis fair e do congresso brasileiro da cannabis medicinal, onde mediei duas mesas muito interessantes: “O boom das growshops e do autocultivo” e “Mercado da cannabis na América Latina, tendências e oportunidades”.
fico honrada e agradecida por ter podido participar desse evento — que mais parecia uma festa — e se consolida como o mais importante do setor como pólo B2b e fórum científico de discussões sobre os usos medicinal e industrial da planta encontrar pessoalmente as pessoas que botam esse mercado de pé é celebração na certa.
parabéns ao sechat, que tem visão e capacidade de organizar um evento dessa magnitude, e principalmente, reunir tanta gente boa em torno a um mesmo ideal: a planta livre. quero aproveitar para agradecer a todas e cada uma das pessoas com quem troquei na semana passada. as nossas conversas já estão virando pauta ;)
a cereja do bolo dessa viagem foi chegar a tempo de assistir ao espetacular “céu da língua”, do gênio gregório duvivier, que eu tenho a honra de chamar de amigo <3
e aqui, comentando em vídeo os bastidores das entrevistas e reportagens 🌻
CANNABIS HOJE POD: notícias quentinhas comentadas por especialistas, papo de empreendedorismo e negócios com os empresários mais destacados do setor, e os bastidores do universo canábico brasileiro pelas figuras que mantêm esse mercado aceso
Beatriz Emygdio e Daniela Bittencourt, as duas pesquisadoras da Embrapa contam os planos de pesquisa e desenvolvimento agrícola da cannabis
Emílio Figueiredo e Robson Ribeiro, analisam a proposta da Anvisa para o cultivo em solo nacional
Viviane Sedola, abre os dados de uma pesquisa que ela encomendou para o seu livro, e diz por que é necessário falar de cannabis para além do uso medicinal
» Na 4ª temporada, o Cannabis Hoje Pod é apoiado por 5 marcas que são destaque em inovação e tecnologia nos seus nichos de atuação: Unyleya, USA Hemp, Flora Urbana, Blis e aLeda
Essas são marcas que reconhecem o valor da comunicação responsável e do jornalismo de qualidade no processo de desestigmatização da planta, promovendo informação para a normalização do que um dia foi tabu.
“AS DROGAS SÃO UM DOS CAMINHOS QUE O SER HUMANO USA PARA ACESSAR GRAUS DE CONSCIÊNCIA”, Matheus Nachtergaele
Matheus Nachtergaele me recebeu com a doçura de quem conhece os próprios silêncios e as palavras que valem ser ditas. O ator, que atravessa o imaginário brasileiro há décadas com personagens inesquecíveis, fala sobre drogas com a mesma profundidade com que discute a função social do artista. Maconha? “Um pega me derruba por horas”. LSD e cogumelos? “Vislumbres do todo, quase religiosos”. Cocaína? “Ilusão podre de poder”. E o MD, que ele experimentou numa noite mágica sob uma mangueira, virou símbolo de afeto coletivo.
O artista mergulha na contradição de quem já navegou entre expansões de consciência e os abismos do vício. Abandonou o álcool, mas segue fumando tabaco, o seu “pequeno suicídio”, e usa outras drogas sempre em doses mínimas, em festas, e com um pé na realidade. No centro dessa dança, está o teatro — seu antídoto e sua redenção. “É onde a catarse coletiva acontece sem drogas”, diz, defendendo a arte como “redução de danos” para a alma.
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ANVISA EMPURRA A REGULAÇÃO DO CULTIVO PARA A AGRICULTURA
A resposta da Anvisa ao STJ sobre cultivo de cannabis chegou, e traz mais dúvidas que esclarecimentos. Na verdade, a única coisa que ficou clara é que a agência deixa nas mãos do Ministerio da Agricultura a definição dos critérios para o cultivo em larga escala no país. O lado é bom é que entregar a cannabis para o MAPA vai agilizar a pauta de um jeito que a gente nunca viu, e, de certa maneira, tirar a cannabis da influência única da Anvisa e sua sempre aguerrida defesa da indústria farmacêutica.
Mas indo mais além, a Anvisa anunciou que tirou o cânhamo industrial da lista de controle de substâncias com potencial psicotrópico, o que abre brecha pra cultivo legal, desde que feito por empresas com CNPJ — e usando genéticas registradas no MAPA -- coisa que ainda está por vir. A agência faz questão de deixar claro: não vai se meter em definir como se cultiva (e o povo brasileiro agradece), mas acontece que isso não foi conversado, e pegou o MAPA de surpresa, de uma hora pra outra tendo que definir regras sobre licenciamento, porte, modelo de cultivo (outdoor, estufa, indoor), fiscalização, tudo.
No texto, a Anvisa chama de cânhamo industrial toda colheita que tiver menos de 0,3% de THC, um limite que foi estabelecido claramente por alguém que ou não entende de cannabis, ou não entende de Brasil, e provavelmente de nenhum dos dois.
Na prática, cultivar com menos de 0,3% de THC no Brasil é mais do que desafiador. A exposição solar eleva o nível de THC, o que torna a plantação a céu aberto inviável na maior parte do país.
A saída técnica mais viável seriam as estufas (ou green houses), que são uma solução cara -- e considerando que estamos falando de cultivo no Brasil, também burra. A Anvisa acaba de proibir que o Brasil desenvolva o seu principal potencial, graças às nossas tão invejadas horas de sol, que poderiam fazer dos cultivos brasileiros os mais poderosos e sustentáveis do mundo. Mas a Anvisa achou por bem que 0,3% é suficiente. Mesmo que no Paraguay, Uruguay, Suíça e Austrália, cânhamo é tudo aquilo com até 1% de THC.
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BARRIGA SOLIDÁRIA
“Eu queria gestar e parir, não queria ficar com o bebê”, conta Gabi Gavioli, que já era mãe de duas crianças do seu casamento anterior, quando em fevereiro do ano passado decidiu que engravidaria novamente para ajudar um casal que vinha tentando há 16 anos. Gabi, na verdade, não considerou isso como uma ajuda, mas como um “alinhamento de sonhos”, já que ela também tinha vontade de passar novamente pela experiência da gravidez e do parto, só que não tinha estrutura nem vontade de ser mãe novamente.
Gabi é usuária recreativa de maconha, mas durante a gravidez, decidiu dar uma pausa. “Não usei cannabis na gestação e nem no pós-parto porque como não era um bebê nosso, o cuidado foi muito além, até em coisas simples, tipo não usar protetor solar comum”, explica ela, que no meio da gravidez passou inclusive por um exame toxicológico, exigido no processo de barriga solidária.
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“A CORRIDA MAIS O CBD ME FIZERAM PARAR 7 MEDICAMENTOS”, André Janones
Se tem um político que dispensa zona de conforto é o André Janones. Ele defende que o uso de drogas é uma questão de saúde pública e que o preconceito, esse sim, é um problema grave. Nesse papo comigo, o deputado revela sua relação pessoal com a cannabis: nunca fumou, mas usa CBD todos os dias, e credita a ele — junto com a corrida — sua saída de um quadro de depressão, sete medicamentos e impulsividade extrema. Também sobre sua única — e mal sucedida — experiência com cogumelos psicodélicos. E, claro, sobre polêmicas (incluindo a rachadinha).
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RECICLAGEM POR DENTRO E POR FORA
“Crack, álcool, maconha, cocaína, o que viesse era lucro.” Essa era a lógica de Anne Caroline Barbosa, uma jovem sul-matogrossense que em 2017 migrou a São Paulo com o sonho de trabalhar como designer gráfica, mas deu de cara com a dura poesia concreta da megalópole. Durante a pandemia, com os ferros-velho fechados e a impossibilidade de continuar trabalhando, Anne começou a criar conteúdo para as redes sociais, “porque as pessoas precisam saber que a nossa classe existe e que a gente precisa ser respeitado, que fazemos um trabalho fundamental para a sociedade, que a sociedade depende do nosso trabalho.”
Mesmo com a ascensão nas redes e as parcerias esporádicas com marcas, o que ocasionalmente faz pingar uma graninha extra, Anne segue trabalhando na rua, de sol a sol, e sente o reflexo desse esforço no corpo. “Tem dia que não consigo nem levantar da cama de tanta dor nas articulações.” Para lidar com elas, no ano passado Anne voltou ao velho hábito da maconha. “O dia a dia de trabalhar com reciclagem é muito pesado e quando eu fumo, me alivia demais para conseguir fazer força. A maconha pra mim é um remédio relaxante, e ainda me dá criatividade.”
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LOUCOS OU VISIONÁRIOS?
No mês do trabalhador, eu conversei com profissionais da cannabis para saber se realizar esse sonho é amor ou é cilada.
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“AS DROGAS DIALOGAM COM MEDOS PROFUNDOS DA SOCIEDADE”, Bruno Paes Manso
Bruno Paes Manso é um dos maiores estudiosos sobre o crime organizado no Brasil e traz uma perspectiva interessantíssima, que eu, pelo menos, não tinha tido ainda, de que a guerra às drogas, nasce, na verdade, do medo que a sociedade tem do descontrole, da desordem e da imprevisibilidade.
A solução, para Bruno, estaria na regulamentação — não como utopia, mas como necessidade prática. Ele destaca o exemplo do PCC, que se tornou uma espécie de “governo do crime” justamente por entender que regras geram lucro e estabilidade. Se o Estado não ocupar esse espaço, o tráfico continuará ditando as leis.
Educann by Unyleya - Enfermagem canábica: uma nova especialidade no cuidado integrativo
A Enfermagem Canábica surge como uma especialidade inovadora, refletindo o avanço das práticas terapêuticas no Brasil. Recentemente, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), em parceria com a Sociedade Brasileira de Enfermagem Canábica (SOBECA), iniciou tratativas para regulamentares essa área, confirmando a importância do enfermeiro no acompanhamento de pacientes que utilizam cannabis medicinal. O enfermeiro canábico atua no gerenciamento de casos, oferecendo um atendimento humanizado e individualizado. Suas funções incluem a escuta, orientação sobre o uso seguro da cannabis e apoio na adesão ao tratamento, promovendo bem-estar e qualidade de vida aos pacientes.
Com a crescente demanda por terapias alternativas, a especialização em Enfermagem Canábica representa uma oportunidade para os profissionais se destacarem em um campo em expansão. Além de contribuir para a saúde pública, essa área abre novas possibilidades de atuação, como consultoria e desenvolvimento de programas de cuidados integrativos. Investir na formação em Enfermagem Canábica é alinhar-se às tendências contemporâneas da saúde, ampliando horizontes profissionais e fortalecendo o compromisso com um cuidado mais empático e eficaz. (Profa. Dra. Enfa. Suzyanne Araújo - coordenadora da pós em Enfermagem Canábica da Unyleya)
CannaTech by Blis - Quando uma palavra vale mais que mil imagens
O avanço do atendimento médico por chat — seja via aplicativos próprios, plataformas de telemedicina ou até pelo WhatsApp — é um dos fenômenos mais marcantes da transformação digital da saúde. Segundo dados da DataReportal (2024), mais de 96% dos brasileiros usam o WhatsApp, e 83% afirmam preferir resolver questões do dia a dia por mensagem, e não por telefone. Esse comportamento migrou naturalmente para o cuidado com a saúde. A tendência é global. Relatório da McKinsey & Company mostra que o uso de canais assíncronos (como chats médicos) cresceu 38% no mundo pós-pandemia, enquanto a Accenture aponta que 62% dos pacientes preferem interações digitais com serviços de saúde. O motivo? Praticidade, privacidade, agilidade — e, muitas vezes, menos julgamento.
No Brasil e no mundo, diversos players da saúde já adotaram o modelo:
• Hospital Albert Einstein (Brasil): oferece chat médico pelo aplicativo Einstein Conecta, com triagem automatizada e atendimento humanizado por profissionais de saúde.
• Hospital Sírio-Libanês (Brasil): através da plataforma de Telemedicina, pacientes têm acesso a orientação médica por mensagens, inclusive para acompanhamento de casos clínicos.
• Dasa Saúde (Brasil): por meio do app Nav, permite acesso a médicos 24 horas via chat, com histórico integrado de exames e orientações personalizadas.
• Amil (Brasil): o app Amil Clientes inclui chat com profissionais de saúde para dúvidas e orientações, principalmente para clientes dos planos One e Fácil.
• Kaiser Permanente (EUA): uma das maiores redes integradas de saúde dos Estados Unidos, a Kaiser oferece atendimento médico por chat 24h via seu aplicativo e portal, com histórico clínico conectado a todos os níveis de cuidado.
• Babylon Health (Reino Unido): pioneira em consultas por IA e chat médico, a Babylon atende milhões de pacientes no Reino Unido e outros países, com foco em triagem digital, consultas por chat e suporte clínico remoto em larga escala.
• Teladoc Health (EUA): uma das maiores plataformas de telemedicina do mundo, permite atendimento por chat com médicos de diferentes especialidades, com operação em mais de 130 países e foco em saúde populacional e acompanhamento de doenças crônicas.
• Blis (Brasil): plataforma especializada em cannabis medicinal, pioneira no uso de chat médico para orientação, prescrição legal e acompanhamento remoto. Através do app, pacientes têm acesso a atendimento clínico por mensagem, o que permite alcançar regiões com baixa cobertura médica tradicional — inclusive em cidades onde não há médicos especializados no tema.
Mas apesar da popularidade, esse modelo ainda divide opiniões. De um lado, há especialistas que defendem que o atendimento por chat aumenta o alcance da saúde, rompe barreiras geográficas e permite uma atenção mais contínua, especialmente em casos crônicos ou que exigem monitoramento. De outro, críticos alertam para o risco de desumanização do cuidado e para a necessidade de critérios técnicos rigorosos na triagem e orientação dos pacientes. No Brasil, o desafio da conectividade também entra nessa equação. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), ainda existem mais de 4.500 municípios com cobertura 3G ou 4G instável, o que limita o acesso a videoconferências e chamadas ao vivo. Nessas regiões, o atendimento por chat se torna não apenas uma alternativa viável — mas a única possível. Por consumir menos banda, permitir respostas em horários diferentes e funcionar mesmo em conexões limitadas, o chat amplia o acesso a quem vive em comunidades rurais, periferias urbanas e regiões isoladas.
Além disso, o Brasil tem mais de 242 milhões de celulares ativos, segundo a Anatel, o que supera a população do país. Em contraste, o acesso pleno à saúde pública ainda é restrito em muitas localidades. Nesse contexto, o celular com internet limitada, combinado ao atendimento assíncrono por chat, é a ponte entre o paciente e o cuidado — onde quer que ele esteja. O uso da telemedicina — incluindo o chat médico — é regulamentado pela Lei nº 13.989/2020 e pela Resolução CFM nº 2.314/2022, que garantem validade legal às consultas realizadas por meios digitais, desde que haja responsabilidade profissional, prontuário registrado e prescrição controlada. A verdade é que, em um país com dimensões continentais e desigualdades históricas de acesso à saúde, o atendimento por chat se torna uma das ferramentas mais importantes de inclusão. Ele leva informação, acolhimento e cuidado a pessoas que antes ficavam de fora do sistema. Não substitui o médico de família, mas aproxima o cuidado de quem nunca teve um.
Gostando ou não, o futuro já chegou. E ele escreve de volta. (Toninho Correa - co-fundador da Blis)
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