Cannabis Hoje ☘️ O equívoco de 32 toneladas da polícia espanhola
Maior apreensão de todos os tempos de maconha, na verdade era cânhamo
Oiê, tudo bem?
Edição extra do boletim trazendo na íntegra uma reportagem que publiquei semana passada no Business Cann (em inglês) e quis disponibilizar também em português.
Divulgada pela polícia como a maior interceptação de maconha da história, a ação teve como alvo a maior processadora de cânhamo industrial da Espanha. Parece absurdo, e é. Vem comigo, que eu te conto melhor ;)
Entre uma ligação e outra, Francisco Carbó segue fechando contratos para a E-Canna, empresa de processamento de cânhamo da qual é proprietário com sede em Valência, na Espanha. No dia 21 de outubro, a empresa foi alvo de uma operação da Guarda Civil espanhola, divulgada pela própria como sendo a maior apreensão de “marijuana” de todos os tempos.
Além de passar três dias na cárcere, Carbó viu seu nome ser publicado por centenas de jornais no mundo inteiro que se referiram a ele e a seus empregados como uma “gang”, sugerindo que se tratava de um grupo de bandidos, e não de uma atividade legal autorizada e registrada desde a abertura da empresa, em outubro de 2021.
“Existe uma perseguição a nível nacional pela criminalização e estigmatização da cannabis. Para eles, todo cânhamo é delinquência e isso nao é assim, as autoridades estão cometendo abusos. O que está acontecendo aqui é uma prevaricação”, denuncia o empresário.
Nosso encontro aconteceu em Barcelona, para onde viajou com o objetivo de negociar a produção de cigarros de CBD. Segundo ele, a procura pelos serviços de assessoramento técnico, processamento de flores e biomassa de cânhamo e consultoria legal da E-Canna cresceu 300% nas últimas semanas. De fato, seu telefone não parava de tocar. “Os clientes viram que fui solto, a empresa continuou funcionando, e entenderam que estamos fazendo a coisa certa”, diz, enquanto mostra uma série de documentos que, segundo ele, comprovam que sua empresa processa apenas cânhamo, e não marijuana, como acusou a polícia.
No dia 5 de novembro, a Guarda Civil emitiu uma nota afirmando que a Operação Jardines apreendeu 32 toneladas de marijuana, mas segundo Soraya Calvo, diretora administrativa da empresa, que acompanhava Carbó em Barcelona, a informação era falsa. A começar pela quantidade, que seria de 25 e não 32 toneladas. Depois, por enquadrar a matéria-prima como “droga” antes mesmo que passasse pelas devidas análises.
“Entraram encapuzados e com armas em punho, colocando todo mundo no chão, como se fôssemos traficantes. Não tinha necessidade disso, nós trabalhamos de portas abertas e prestamos contas de absolutamente tudo o que entra e sai da E-Canna”, conta.
Faroeste espanhol
Na terça-feira passada (15), Carbó se apresentou em uma primeira parte do julgamento, onde deixou uma pilha de documentos sob os cuidados da juíza do caso, que determinou que as flores permaneçam precintadas – mas não sejam destruídas –, e que a E-Canna possa seguir normalmente com suas atividades, enquanto estuda as provas aportadas pela defesa. A expectativa é que a resposta final saia dentro de um mês, e apesar do prejuízo que acumula com as toneladas paradas no galpão, Carbó mantém a tranquilidade de quem tem certeza que a sentença será favorável.
“Se isso é droga e sou um delinquente, que me levem preso amanhã. Mas se isso não é droga, que me liberem amanhã mesmo. Exijo o mesmo que coloco à disposição da justiça”, enfatiza.
Amparado juridicamente por dois advogados desde o início das operações da E-Canna, Carbó optou pelo direito preventivo. Semanalmente, ele comunica à Guardia Civil todos os movimentos da empresa. “Antes mesmo de ser investigado pelas forças do Estado, fui aos tribunais e disse ´senhores, essa é a minha atividade, aqui está o meu documento, se isso é um delito, me coloquem na cadeia”, conta ele, que pediu uma tutela judicial efetiva, para que sua atividade seja supervisionada e tutelada. O pedido ainda aguarda resposta.
Ao longo do último ano, acumulou provas sobre a licitura de sua atividade, ciente de que mais dia menos dia seria surpreendido pela polícia. “Eu esperava um ataque frontal, com inspeções normais. Nunca imaginei que esse ataque viria pelas costas, com uma acusação que partiu do nada e não se sustenta sob nenhum aspecto”.
Entre os documentos que respaldaram a decisão preliminar da juíza a seu favor estão comprovantes de aduanas, da agência tributária, um compliance sobre a jurisprudência em que se baseia a atividade, e amostras retiradas de cada lote. Dentro em breve, a juíza receberá a análise dos testes de amostras de flores apreendidas pela polícia, que foram enviadas a um laboratório e determinará a porcentagem dos canabinoides presentes para definir se o material afinal é ou não psicoativo. Casos como este não são raros na Espanha, e os juízes tenderam sempre a interpretar as leis da União Europeia, mais permissivas em relação ao cânhamo que a própria Espanha.
Segue o jogo
Com 15 funcionários divididos entre o escritório e as duas naves da companhia, a E-Canna atende a mais de 40 agricultores de todas as partes da Espanha. Eles estão obrigados a ter um contrato com uma empresa transformadora para garantir a traçabilidade do cultivo, além de usar sementes certificadas e estar inscritos no registro agrário de sua comunidade autônoma. “Nós orientamos também que os agricultores informem a atividade à Guarda Civil. Se não tem esses papéis, não trabalham comigo, porque tenho que garantir a legitimidade de cada produto.”
A E-Canna é hoje o principal elo entre o cânhamo produzido na Espanha e seu escoamento a outros países na Europa. Suíça, Bélgica, Alemanha e Holanda, já compraram flores de cânhamo processadas pela empresa. De acordo com Carbó, em um mês será divulgado na imprensa um contrato milionário que acaba de firmar com uma distribuidora francesa.
Players da indústria da cannabis na Espanha que pediram para não ser identificados concordam que a relevância da E-Canna no setor contribuiu para que ela se tornasse alvo desse tipo de operação. Agricultores e empresas de cannabis no país sofrem com a repressão do governo e da polícia há anos, vários deles encerraram suas atividades na Espanha e reabriram em países vizinhos, que lhes oferecem maior segurança jurídica.
Carbó, no entanto, está decidido a resistir aos ataques que sofreu e tem consciência que pode voltar a sofrer no futuro.
“Não vou abandonar um setor que está em crescimento e tem um potencial econômico importante, que se esta por profissionalizar, porque se nós, que somos profissionais, sairmos correndo, o setor seguirá para sempre estigmatizado.”
O empresário anda cheio de ideias de novos negócios na cabeça. Um deles, o desenvolvimento de leite de cânhamo, e o outro, de distribuição de flores de CBD nas tabacarias da Cataluña a partir do mês que vem.
São por estás e outras informações erradas que acabamos de tomar opiniões erradas, defeito de caráter do ser humano, julgar pelas aparências.
Continue sua caminhada e nos informando sempre a verdade.
Parabéns 👏
Tão século XIX isso :/. Boa, Anitta :)