CH#50 ☘️ Equidade social na cannabis de NY
Estado quer ser modelo com políticas que asseguram 50% dos negócios a negros, mulheres e condenados por venda ou uso da erva
Geeeente, chegamos à nossa 50ª edição \o/
No fim de janeiro este boletim completará dois anos de vida e eu tô feliz da vida primeiro comigo mesma, por ter conseguido me comprometer com um projeto super necessário mas cujo retorno financeiro é nulo e o trampo é enorme, e depois pela linda oportunidade de conversar sobre cannabis e psicodélicos com um número cada vez maior de pessoas.
Rebolo para manter a periodicidade, a relevância, o entusiasmo, às vezes dá certo e às vezes escorrego. Ainda bem que tem vocês e que cês tão fechado comigo, com essa taxa média de abertura pra lá de sexy de 36%. Gracias mil! O convite segue de pé, quando quiser sugerir uma pauta, uma ideia, algo que ainda não viu por aqui, venha. Eu tinha uma editora cuja assinatura do email era “Mande notícias, eu vivo disso”, pois é bem isso. Ana Estela como sempre coberta de uma charmosa razão.
O ano começou voando por aí também? Para a cannabis, sim!
A grande pergunta do setor hoje é se o governador de SP vai ou não assinar a lei que permite acesso a medicamentos de cannabis pelo SUS. Minha aposta é de que assina, pra não passar vergonha nem receber uma pressão desnecessária logo no começo do mandato, mas tem muita gente apostando que não assina, não, “bolsonarista do jeito que é?”. Na próxima news retomamos, mas provavelmente antes lá no perfil do Cannabis Hoje no Instagram.
(um parêntesis, pra falar da parte mais deliciosa da minha vida nesse momentinho right now, que é o arrebatamento gerado pelo advento de hidra em minha vida. hidra é uma vira-lata meio pastora alemana muuuuito doce, a cachorra é um algodão-doce de tão doce. estamos todos in love, queremos ela pra sempre, a gente combinou com ela e ela combinou com a gente, mas só estamos com ela por algumas semanas enquanto nosso amigo (e tutor de hidra) tá viajando. olha eu de novo querendo roubar bicho alheio. tô in love com hidra, hidra amor eterno amor verdadeiro)
Eu contei pra vocês que a nossa coluna no Poder360 agora é semanal? Isso aí, todas as sextas-feiras uma análise quentinha da indústria da cannabis e dos psicodélicos. Mais feliz impossível? Era possível ainda mais, mas eu só soube disso ontem de manhã, quando recebi a notícia de que o Janio de Freitas (colunista da Folha por quatro décadas, demitido pelo jornal há alguns dias) foi contratado pelo Poder360 para publicar semanalmente, também às sextas-feiras. Maior honra, nossa senhora. Já reforcei o arroz e o feijão aqui, para dar conta.
Publicamos com o Poder uma análise sobre a legalização do uso adulto da cannabis em Nova York, e como o estado criou uma estratégia para ser modelo de todo o país, implementando políticas de equidade social que começaram a funcionar desde o momento zero.
Publicamos também um artigo sobre terapia psicodélica para tratar a ansiedade do fim da vida, um direito que muito pouca gente teve até hoje no mundo. Geralmente, cidadãos do Canadá e dos EUA, que se beneficiam de poder escolher como morrer enquanto que à maioria de nós nos concedem apenas o direito de escolher como viver, e olhe lá. A terapia psicodélica para lidar com a morte não deve ser um privilégio, nem muito menos burocrática. Nas news que se seguem, aprofundaremos sobre a recente legalização do Oregon para psicoterapia assistida por psilocibina, a 1ª dos EUA. Vamos com essa e outras news psicoativas?
☘️ Alô, alô voluntário: inscrições abertas em estudos sobre cannabis e psicodélicos
Dois estudos, um com cannabis e outro com psicodélicos, estão agora mesmo recebendo inscrições de voluntários, talvez te interesse, olha só. Um grupo de pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) está em busca de mulheres com endometriose para um estudo duplo-cego com CBD para tratar dor intensa que persiste mesmo após cirurgia e tratamento hormonal. Para participar é preciso ter diagnóstico de endometriose, mais de 18 anos de idade, haver tratado a endometriose (com cirurgia ou hormônios) sem sucesso e disponibilidade para ir a Ribeirão Preto uma vez por mês para coletar sangue – além dos questionários online. Na Universidade de Greenwich, no Reino Unido, estão interessados em estudar experiências psicodélicas “desafiadoras”, em outras palavras, que não tenham sido integradas completamente ou que tenham sido, em alguma instância, problemáticas. O estudo internacional precisa de pelo menos 100 brasileiros inscritos para que aconteça.
☘️ Entidade de anestesistas publica diretrizes especiais para aplicação de anestesia em usuários de cannabis
Novas diretrizes divulgadas na semana passada pela Sociedade Americana de Anestesia e Medicina da Dor recomendam que todos os pacientes sejam perguntados se usam cannabis antes de qualquer cirurgia. Isso porque estudos mostraram que os usuários regulares de cannabis costumam ter mais dor e náuseas após a cirurgia que os não usuários. O órgão instrui que sejam feitas perguntas inclusive sobre o tipo de produto de cannabis consumido, a quantidade e como foi consumido ou usado, há quanto tempo e com que frequência. Em um comunicado à imprensa a entidade disse que “os anestesiologistas devem perguntar aos pacientes se eles usam cannabis – medicinalmente ou recreativamente – e estar preparados para possivelmente mudar o plano de anestesia ou atrasar o procedimento em certas situações." A organização também divulgou um infográfico para explicar a metodologia ou recomendações para o manejo de pacientes perioperatórios que consomem cannabis.
☘️ Argentina ostentação: governo vai investir mais de R$ 3 milhões em pesquisas com cannabis
Parece que ganhar a copa fez bem para o moral dos hemanos e todo mundo se animou, até o governo, que decidiu por em prática o discurso de apoio à cannabis e através do Ministério da Ciência, anunciou que investirá 106 milhões de pesos argentinos (o equivalente a mais de R$ 3 milhões) em projetos de pesquisa e desenvolvimento da cannabis para fins medicinais e industriais. Não é lá muita coisa, mas já é um começo, palmas pra eles. O ministro Daniel Filmus revelou que já está aprovado o financiamento dos primeiros 13 projetos, dos quais 11 são de investigação científica e dois a projetos associativos que envolvem governos nacionais ou locais e organizações da sociedade civil, ONG´s e cooperativas. A maioria dos projetos científicos que receberão financiamento são estudos sobre as aplicações medicinais da cannabis para diferentes tipos de patologias e pesquisas para melhorar o conhecimento sobre a própria planta (além da produção natural de canabinóides). Os projetos selecionados serão realizados em Buenos Aires, La Pampa, Mendoza, Santa Fé e Chubut, e envolverão o Conicet, a Universidade de Buenos Aires, a Universidade Nacional do Litoral e Universidade Nacional de Hurlingham. Até o final do ano será formalizada a criação da Agência Reguladora da Indústria do Cânhamo e da Cannabis Medicinal (Ariccame), que ficará encarregada de “regulamentar a importação, exportação, cultivo, comercialização e aquisição de sementes e produtos derivados para fins medicinais ou industriais”, disse, em nota.
☘️ Quase 4 a cada 10 pacientes de dor crônica usam cannabis para o controle de crises
Um estudo publicado na primeira semana do ano pela JAMA Network Open descobriu que 38% dos adultos com dor crônica em estados com cannabis medicinal legal dizem que usam a substância para controlar sua dor. O estudo incluiu uma amostra representativa de adultos com 18 anos ou mais com dor crônica que vivem nos 36 estados com programas ativos de cannabis medicinal. Os pesquisadores usaram dados do painel AmeriSpeak do National Opinion Research Center para avaliar o uso de cannabis entre 1.661 adultos com dor crônica nesses estados e descobriram que 3 em cada 10 adultos usaram cannabis para controlar sua dor, com 25,9% tendo usado nos últimos 12 meses e 23,2% tendo usado nos últimos 30 dias. O estudo descobriu que mais da metade dos adultos que usaram cannabis para controlar a dor crônica relataram que o uso de cannabis os levou a diminuir o uso de opioides prescritos, outros medicamentos prescritos e analgésicos de venda livre. Menos de 1% relatou que o uso de cannabis aumentou o uso desses medicamentos. “O alto grau de substituição da cannabis por tratamento com opioides e não opioides enfatiza a importância da pesquisa para esclarecer a eficácia e as possíveis consequências adversas da cannabis para a dor crônica”, escreveram os autores.
☘️ MDMA: das discotecas para os consultórios de terapia
Dentro de tudo o que está acontecendo no mundo psicodélico, talvez a coisa mais importante seja a possibilidade real de até 2024 o MDMA (substância encontrada em pastilhas de êxtase) ser aprovado para tratamentos em conjunto com psicoterapia. Há poucos dias a MAPS (instituição de fomento à pesquisa psicodélica) anunciou que a segunda parte de seu estudo de Fase 3 de terapia assistida por MDMA para transtorno do estresse pós-traumático confirmou resultados os positivos de testes anteriores, o que deixou animado todo o setor. A primeira parte dos testes de Fase 3 havia tido resultados historicamente significativos e toda a indústria espera pela segunda parte, que se também for confirmadamente bem-sucedida, como essa prévia indica, vai preparar o terreno para uma provável aprovação do MDMA pela FDA. O segundo estudo de Fase 3 da terapia assistida por MDMA, tratou 104 participantes com terapia assistida por MDMA ou placebo com terapia, os resultados confirmaram os achados da primeira parte da Fase 3; nenhum evento adverso grave foi observado entre os participantes. Espera-se que os dados completos sejam publicados em uma revista revisada por pares ainda este ano, para em seguida apoiar o pedido de um novo medicamento a ser arquivado na Food and Drug Administration (FDA) dos EUA.
☘️ Consumir cannabis diariamente melhora sintomas depressivos, demonstra compilado de estudos
O consumo diário de produtos de cannabis está associado a melhorias sustentadas nos sintomas depressivos, dizem os dados compilados de estudos observacionais e publicados na revista Expert Review of Neurotherapeutics. Investigadores britânicos avaliaram a segurança e a eficácia dos produtos de cannabis em 129 pessoas com diagnóstico primário de depressão. Os sujeitos do estudo eram participantes de um registro do governo do Reino Unido para pacientes de cannabis medicinal e todos possuíam autorização médica para consumir cannabis. Eles consumiram extratos de cannabis, flores com predominância de THC ou ambos por um período de seis meses. Os pesquisadores disseram que “os resultados mostraram que a cannabis medicinal foi associada a melhorias nos sintomas de depressão e ansiedade, bem como na qualidade de vida relacionada à saúde e na qualidade do sono após 1, 3 e 6 meses de tratamento”. Enquanto alguns dos participantes relataram eventos adversos, quase todos os efeitos colaterais foram classificados como “leves ou moderados”. Os autores concluíram que “estudos futuros podem se concentrar na realização de estudos observacionais controlados ou testes-piloto para determinar o potencial dos medicamentos à base de cannabis como tratamento para a depressão”.
☘️ Cogumelos livres: Oregon é o primeiro estado a legalizar terapia com psicodélicos nos EUA
No 1º dia do ano, o Oregon se tornou o primeiro estado dos EUA a legalizar a terapia com psilocibina. A partir de agora, adultos com 21 anos ou mais poderão receber terapia assistida com psilocibina, conduzida por uma organização licenciada. Só que até agora, não há grupos licenciados que possam fornecer legalmente a terapia, isso porque o estado não começou a processar as solicitações de empresas e organizações sem fins lucrativos que desejam abrir os chamados “centros de cura”. Não está claro ainda quanto tempo esse processo levará, mas apesar desse atraso, o Oregon está fazendo história como o primeiro a legalizar uma forma de terapia assistida por psicodélicos. O estado também descriminalizou a maioria dos psicodélicos e outras drogas em 2020. Todos os adultos terão o direito de experimentar a terapia assistida com psilocibina, tenham ou não um atestado médico. É importante lembrar, no entanto, que a venda no varejo da substância ainda será proibida, assim como a venda de psilocibina sem autorização.
☘️ Manifesto assinado por mais de 100 cientistas do mundo todo pede fim da perseguição à ayahuasca na Espanha
Mais de uma centena de renomados cientistas (como Bia Labate, Rick Doblin e José Carlos Bouso) de universidades e institutos de pesquisa do mundo todo assinaram um manifesto “contra a demonização da prática da ayahuasca na Espanha” e a perseguição aos usuários da bebida indígena. O manifesto foi publicado como resultado de recentes operações policiais contra pessoas que organizam e participam de sessões de ayahuasca na Espanha por motivos espirituais ou terapêuticos, a última das quais ocorreu em Yecla na semana passada. A maioria das operações policiais ocorridas nos últimos meses contra as cerimônias de ayahuasca começaram com denúncias anônimas de cidadãos que as apontavam como supostas seitas. As denúncias, por sua vez, foram precedidas por vídeos de um youtuber espanhol que se dedicou a demonizar o uso da ayahuasca com vídeos sensacionalistas e tendenciosos nos quais, com centenas de milhares de visualizações, equipara práticas rituais espirituais e aspectos terapêuticos da ayahuasca com os de seitas. Tanto os vídeos do YouTuber quanto as notícias da mídia após as operações policiais apresentam uma visão do uso da ayahuasca que não responde à realidade das pessoas que a utilizam ou aos estudos e evidências científicas que apoiam seu uso.
☘️ Menos problemas com álcool onde a maconha é legalizada
As pessoas que vivem em estados onde a maconha recreativa é legal apresentam taxas mais baixas de problemas por uso de álcool em comparação com aqueles que vivem em estados onde a maconha permanece ilegal, diz um novo estudo financiado pelo governo dos EUA. Os pesquisadores observaram 240 pares de irmãos gêmeos em casos onde um gêmeo vivia em um estado em que a maconha era legalizada, e o outro não. Eles descobriram que, embora o consumo geral de álcool não diferisse significativamente, aqueles que viviam em estados onde a maconha havia sido legalizada eram “menos propensos a correr riscos enquanto estavam sob a influência do álcool” do que seus irmãos gêmeos que residiam em um estado onde a maconha permanecia proibida. Os resultados sugeriram ainda que a legalização não foi associada a um aumento no transtorno do uso de cannabis, mas poderia estar ligada a um maior uso de cannabis, uso de tabaco e dificuldades financeiras. “Avaliamos uma ampla gama de resultados, incluindo uso de outras substâncias, dependência de substâncias, personalidade desordenada, externalização e questões legais, acordo de relacionamento, comportamento no local de trabalho, engajamento cívico e cognição”, disseram os pesquisadores.
☘️ Uma em cada cinco pessoas com mais de 12 anos consumiu maconha nos EUA em 2021
Em sua Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde de 2021, a SAMHSA (Administração Federal de Serviços de Abuso de Substâncias e Saúde Menal), constatou que 52,5 milhões – ou 1 em cada 5 – pessoas com 12 anos ou mais usaram cannabis com fins recreativos no ano passado nos EUA. Isso faz da maconha a substância mais consumida nos EUA considerada como droga ilícita pelo governo do país. A pesquisa constatou que 35,4% dos indivíduos (11,8 milhões de pessoas) de 18 a 25 anos usaram maconha em 2021, outros 17,2% daqueles com 26 anos ou mais e 10,5% dos adolescentes de 12 a 17 anos. Comparativamente, 133,1 milhões de pessoas com 12 anos ou mais consumiram álcool em 2021. Pessoas de 18 a 25 anos relataram a maior taxa de consumo excessivo de álcool (29,2% ou 9,8 milhões de pessoas), seguidos por indivíduos de 26 anos ou mais (22,4% ou 49,3 milhões de pessoas) e por aqueles de 12 a 17 anos (3,8% ou 995.000 pessoas). Outro dado que me pareceu interessante foi que 8,7 milhões de pessoas usaram analgésicos prescritos de maneira incorreta (quem nunca?), e outras 1,1 milhão de pessoas disseram usar heroína.
☘️☘️☘️
Se você chegou até aqui, então merece uns regalitos. Começando por essa maravilha de novidade, o primeiro curso de direito canábico do Brasil tem um time estelar de professoras e professores que inaugura no país um espaço para transmissão de conhecimento dentro de um dos nichos mais ativos na indústria mundial da cannabis. Depois, este primor de reportagem do Marcelo Leite para a Piauí, com o mote da legalização no Oregon, mas muito mais. E finalmente, se você, assim como eu, já se perguntou quais são as cepas e os terpenos que favorecem a criatividade, aqui está a resposta.
Quer falar: cannabishoje@gmail.com
Seguir no IG: @cannabishoje
Compartilhar a newsletter com as amizades ↓
Gracias e até mais,
Anita