CH#52 ☘️ O Twitter já deu seu aval à cannabis, agora falta o Brasil
Meios de comunicação daqui ainda não se atentaram que indústria seguirá ganhando relevância e merece cobertura especializada
Oi minha gente, tudo bem por aí?
Por aqui, tentando sobreviver. Hoje, por exemplo, a máxima é de 37 graus. E ontem ficamos 7 horas sem água nem luz, que significa sem ar-condicionado, que é o mesmo que morrer lentamente.
Vocês entendem que eu esteja sem condições, né? Então vamos logo ao que interessa. Começando pelos três artigos que publiquei no Poder360 desde a última newsletter.
Este aqui, sobre a revolução psicodélica na Austrália, que de estar fora do radar, passou a ser o 1º país do mundo a reconhecer o MDMA e a psilocibina como medicina.
Depois, falo sobre um pequeno passo para o Twitter mas grandíssimo passo para a indústria da cannabis, quando há algumas semanas, a plataforma anunciou que a partir de agora passaram a aceitar publicidade de cannabis.
E, finalmente, escrevo sobre o imbróglio do processo de regulação da cannabis na Espanha. Talvez seja difícil acreditar, mas até o Brasil está mais avançado no que diz respeito, por exemplo, à cannabis medicinal.
Bueno, vamo que vamo!
☘️ Usuários frequentes de cannabis tiveram piores resultados na terapia cognitivo-comportamental para combater a ansiedade
Não é raro que as pessoas que procuram tratamento para a ansiedade geralmente endossem o uso de cannabis. Algumas delas podem estar usando cannabis justamente para ajudar a controlar os sintomas de ansiedade, no entanto, em alguns casos, o uso da erva acaba por alimentar o quadro de ansiedade, seja pelo perfil biológico da planta (já se sabe que níveis elevados de THC contribuem para agravar a ansiedade), ou ao desenvolver ansiedade por transtorno de uso da substância. Um estudo focado em adultos que procuram tratamento para ansiedade e transtornos relacionados descobriu que usuários frequentes de cannabis tiveram resultados piores da terapia cognitivo-comportamental em comparação com pessoas que nunca usaram cannabis ou usaram com menos frequência. O estudo realizado no Canadá foi publicado no Journal of Psychiatric Research há poucas semanas. Dos 253 adultos que procuravam tratamento para ansiedade, 135 participantes eram não-usuários, 45 participantes eram usuários pouco frequentes e 73 participantes eram usuários frequentes. Os resultados mostraram que a gravidade dos sintomas de ansiedade diminuiu em todos os grupos durante a terapia. No entanto, os sintomas de transtorno de ansiedade melhoraram menos ao longo do tempo em usuários frequentes de cannabis do que no grupo de não usuários. “A frequência do uso de cannabis foi associada a resultados piores da terapia cognitivo-comportamental para ansiedade e distúrbios relacionados, no entanto, esses indivíduos ainda obtiveram ganhos notáveis com o tratamento”, escreveram os pesquisadores. O estudo é uma das primeiras investigações sobre a relação entre o uso de cannabis e os efeitos da psicoterapia. No entanto, também possui limitações que precisam ser levadas em consideração. Notavelmente, o desenho do estudo não permite conclusões de causa e efeito sobre as relações dos fatores estudados. Além disso, o uso de cannabis foi avaliado usando medidas de auto-relato e a divisão em categorias pela frequência com que uma pessoa usa cannabis não foi baseada em nenhum método padronizado.
☘️ CBD pode ajudar fumantes a abandonar o cigarro
Um novo estudo financiado pelo governo federal dos EUA descobriu que o CBD pode ajudar os usuários de tabaco a reduzir o desejo pela substância e até abandonar o vício. O estudo, publicado na revista Chemical Research in Toxicology no mês passado, foi comandado por pesquisadores da Washington State University (WSU), que analisaram os efeitos do canabinóide não intoxicante no metabolismo da nicotina, o principal componente viciante do tabaco, e mostrou que doses relativamente baixas de CBD inibiram significativamente uma enzima chave associada ao processamento da nicotina no corpo, o que poderia evitar os desejos. “Nossa missão é diminuir os danos do fumo, que não são da nicotina em si, mas de todos os carcinógenos e outros produtos químicos que estão na fumaça do tabaco”, disse o professor da WSU Philip Lazarus, autor sênior do estudo, em um comunicado à imprensa. Embora os pesquisadores digam que são necessários mais estudos envolvendo seres humanos, o estudo que examinou o tecido hepático e os microssomos derivados de linhagens celulares especializadas mostrou que o canabidiol inibiu várias enzimas relevantes – e isso incluiu a CYP2A6, a principal enzima que metaboliza a nicotina. O CBD inibiu o processamento da substância química por essa enzima em 50%, mesmo em concentrações de baixa dosagem. “Em outras palavras, parece que você não precisa de muito CBD para ver o efeito”, disse Lazarus, cuja equipe está realizando ativamente um ensaio clínico de acompanhamento envolvendo fumantes de tabaco. Estudos anteriores chegaram a conclusões semelhantes sobre os efeitos inibitórios do CBD no metabolismo da nicotina. Esta última pesquisa indica que tal inibição das principais enzimas leva ao aumento dos níveis plasmáticos de nicotina por cigarro fumado e uma redução no número de cigarros fumados, diminuindo assim os efeitos adversos do fumo à saúde.
☘️ Pessoas com estresse pós-traumático dormiram melhor ao se tratar com cannabis
O uso de cannabis antes de dormir está associado à melhora do sono em pacientes com estresse pós-traumático resistente ao tratamento, afirmam os dados publicados na revista Frontiers in Psychiatry. Pesquisadores israelenses avaliaram o uso de cannabis em uma amostra de 14 pessoas com estresse traumático que já haviam tentado vários tratamentos convencionais sem sucesso. Nenhum deles haviam provado cannabis antes de se inscreverem no estudo e consumiram cannabis durante à noite em um ambiente ambulatorial por um período de pelo menos seis meses. Após o tratamento com cannabis, a pontuação total do sono, a qualidade subjetiva do sono e a duração do sono melhoraram significativamente. A pontuação total de sintomas de TEPT e seus subdomínios (intrusividade, evitação e estado de alerta) também melhoraram. Por outro lado, o tratamento com cannabis não foi associado à redução da frequência de pesadelos dos pacientes. Nenhum dos pacientes relatou efeitos colaterais, nem decidiu parar de usar cannabis antes do final do período de estudo. “Até onde sabemos, este é o primeiro estudo publicado que examina a eficácia da cannabis a longo prazo em pacientes com TEPT resistente ao tratamento crônico”, concluíram os autores.
☘️ Uso de cannabis e diminuição da pressão arterial: será que a substância poderá servir de remédio contra pressão alta no futuro?
Será que a cannabis em um futuro não muito distante deve virar uma ferramenta efetiva no combate à pressão alta? Um pesquisador francês descobriu que o uso prolongado de cannabis está associado a níveis mais baixos de pressão arterial após avaliar a relação entre o uso de cannabis e a pressão arterial entre uma amostra populacional de mais de 91.000 pessoas. Os resultados da pesquisa foram publicados recentemente na revista Nature Scientific Reports, com uma declaração interessante do autor: “Em modelos de covariáveis ajustados, o uso pesado de cannabis ao longo da vida foi associado à diminuição da pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e pressão de pulso em ambos os sexos, mas com um efeito maior entre mulheres.” São necessários estudos longitudinais em populações em geral e, em seguida, em pacientes hipertensos para destacar o potencial efeito de redução da pressão arterial da cannabis em uso médico”. Um estudo israelense de 2021 com idosos hipertensos determinou que o tratamento com cannabis por três meses foi associado a uma redução na pressão arterial sistólica e diastólica, bem como na frequência cardíaca. Um estudo dos EUA publicado no ano passado no The American Journal of Medicine também encontrou que o uso de cannabis foi associado a uma frequência cardíaca de repouso mais baixa em indivíduos de meia-idade.
☘️ O Canabidiol pode tratar psicose? Um estudo inédito com 1.000 voluntários no Reino Unido vai dar a resposta
Está para ser lançado um estudo global que visa investigar se o canabidiol (CBD), pode ser usado no tratamento da psicose. O estudo inédito, liderado por cientistas da Universidade de Oxford, não apenas investigará o CBD como tratamento para psicose e sintomas psicóticos, mas também como medicamento preventivo a ser prescrito para pessoas com alto risco de psicose. Liderado pelo professor Phillip McGuire e apoiado por colegas do King's College London, o estudo, denominado programa Estratificação e Tratamento na Psicose Inicial, será conduzido em 38 locais em 11 países e vai envolver três ensaios clínicos com 1.000 participantes no total. Nos últimos anos, o CBD tornou-se conhecido como uma cura para muitas doenças, condições e enfermidades. Embora algumas alegações permaneçam sem fundamento, pesquisas clínicas, bem como evidências anedóticas e do mundo real, sugerem que o CBD, com e sem THC e outros canabinóides, pode ser benéfico para uma ampla gama de condições. Em entrevista ao The Guardian, o professor McGuire disse: “O canabidiol é um dos novos tratamentos mais promissores para pessoas com psicose, muitas delas estão abertas a experimentar o canabidiol e estudos anteriores em menor escala indicaram que ele tem efeitos benéficos”. Há evidências crescentes de que o CBD pode ser benéfico para pessoas com psicose e sintomas psicóticos, regulando o sistema de dopamina, assim como os antipsicóticos tradicionais.O CBD que será administrado aos participantes desse enorme estudo coordenado pela Universidade de Oxford será fornecido gratuitamente pela Jazz Pharmaceuticals e será um de seus produtos licenciados já em uso para tratar epilepsia grave. Acredita-se que, ao usar um produto já licenciado, a equipe de cientistas que trabalha no estudo poderá regular, monitorar e visualizar com mais facilidade e precisão o impacto de doses específicas de CBD administradas aos participantes.
☘️ Os terapeutas psicodélicos também estão tomando psicodélicos
Os terapeutas que administram tratamentos de psicoterapia assistida por psicodélicos a pacientes pelo visto também gostam de provar as substâncias na própria pele. Essa foi a conclusão de um novo estudo publicado na revista Psychedelic Medicine, revelando que “a experiência pessoal com psicodélicos foi notavelmente comum entre terapeutas psicodélicos”. As descobertas são as primeiras a delinear o uso pessoal de psicodélicos entre os profissionais e devem gerar um debate interessante em seu campo de atuação. O fato de terapeutas psicodélicos usarem psicodélicos pode parecer lógico, mas, como observaram os autores do estudo, uma “controvérsia emergente na terapia psicodélica diz respeito à adequação ou necessidade de terapeutas psicodélicos terem experiência pessoal usando os próprios psicodélicos”. Embora haja uma série de potenciais vantagens e desvantagens do uso pessoal entre os terapeutas psicodélicos, nenhum estudo até o momento mediu seu uso ou outros aspectos de seu treinamento. Para o estudo, os pesquisadores disseram que revisaram amplamente a literatura sobre aprendizagem experiencial em psicoterapia e psiquiatria, bem como a história do uso pessoal de psicodélicos por profissionais e, em seguida, relataram os resultados de uma pesquisa que foi enviada a todos os 145 terapeutas associados ao ensaio clínico de Fase II do Instituto Usona de psilocibina para transtorno depressivo maior, dos quais apenas 32 participaram da pesquisa, representando uma taxa de resposta de 22%. Na conclusão, os autores disseram que o estudo foi limitado por uma baixa taxa de resposta e falta de diversidade entre os participantes, já que a maioria dos terapeutas psicodélicos se identificou como branca, feminina e com doutorado. Ainda assim, as descobertas são significativas, principalmente porque a terapia psicodélica segue ganhando relevância. “Esta amostra de terapeutas psicodélicos teve uma experiência considerável usando drogas psicodélicas clássicas, com 28 de 32 (88%) endossando o uso de um psicodélico clássico. Desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual foram os motivos mais comuns relatados para o uso de substâncias, particularmente com os psicodélicos clássicos. No entanto, a maioria dos participantes também relatou intenções relacionadas a diversão e curiosidade.
☘️ Cannabis com alto teor de THC melhoraram sintomas de Alzheimer
O uso de extratos derivados de plantas dominantes em THC 2 vezes ao dia está associado à mitigação dos sintomas em pacientes com doença de Alzheimer, de acordo com dados de ensaios observacionais publicados na revista italiana La Clinica Terapeutica. Pesquisadores italianos avaliaram a segurança e a eficácia de extratos de cannabis contendo 22% de THC e 0,5% de CBD em 30 pacientes com doença de Alzheimer em estágios que iam desde leve até grave. Os participantes do estudo administraram os extratos 2 vezes ao dia durante 12 semanas. Os investigadores pudera perceber reduções na agitação, apatia, irritabilidade, distúrbios do sono e distúrbios alimentares após o tratamento com cannabis. Eles reconheceram ainda níveis mais baixos de comportamentos fisicamente e verbalmente agressivos em todos os pacientes. Cerca de 45% dos pacientes experimentaram “uma diminuição significativa no comprometimento cognitivo. Nenhum dos pacientes se queixou de quaisquer efeitos colaterais adversos. Todos os pacientes apresentaram aumento da qualidade de vida e uma diminuição na sobrecarga do cuidador e nos custos de cuidados e assistência médica. Os autores concluíram que os resultados do ensaio clínico supõem a eficácia e, em particular, a segurança de uma preparação [natural] de CBD/THC em dois sintomas principais do Alzheimer, a agitação e a perda de peso”. Testes anteriores demonstraram a capacidade dos extratos naturais de cannabis e dos canabinóides sintéticos de mitigar vários sintomas da doença. Dados pré-clínicos mostraram que tanto o THC quanto os agonistas sintéticos do THC podem modular a neuroinflamação e a formação de placas amilóides no cérebro – ambos os quais, acredita-se, desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da doença.
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Por hoje é isso, gente. A news foi um pouquito mais curta mas nem por isso menos interessante. Vamos nos despedindo com esta entrevista imperdível que a Dhayane Santos, da TV 247, fez com o Cristiano Maronna, advogado dos brabos que há pouco lançou a bíblia sobre a lei de drogas no Brasil, o livro ‘Lei de Drogas Interpretada na Perspectiva da Liberdade’, pela Editora Contracorrente. Depois, este artigo no blog do Marcelo Leite, sobre testes que a Unifesp está programando, com ayahuasca e psilocibina no combate ao tabagismo. E finalmente, esta pesquisa online da Columbia University, que quer entender melhor os impactos de psicodélicos nas relações amorosas. Para participar é preciso ter mais de 18 anos, ter usado psicodélicos enquanto estava em uma relação amorosa e falar inglês. Agora sim, bora bora.
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Gracias e até mais,
Anita